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"História da Cidade de São Paulo" conta em quase 2.000 páginas 400 anos da capital paulista
Saudosa maloca
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Está saindo do forno um dos
trabalhos mais completos já realizados sobre a "saudosa maloca"
"din-din-donde nóis passemos"
450 anos de nossas vidas.
Com quase 2.000 páginas divididas em três catataus de capa dura, está chegando às livrarias de
todo o país a obra "História da Cidade de São Paulo", com ensaios
de 44 especialistas nas mais diversas facetas da capital paulista.
É um bocado de fôlego. O projeto respira oxigênio no século 16,
nos índios tupinambás, e só solta
o ar nas festas do Quarto Centenário de São Paulo, em 1954.
Os 400 anos são loteados em ensaios temáticos feitos por sociólogos, arquitetos, historiadores, fotógrafos, antropólogos, geógrafos, cientistas políticos e críticos.
Comandando toda essa tropa esteve a caçula do projeto, a historiadora Paula Porta.
Aos 36 anos, a idealizadora de
"História da Cidade de São Paulo" já é uma veterana bandeirante
do passado paulistano. Doutora
pela USP, foi ela a coordenadora
do ambicioso "Guia dos Documentos Históricos na Cidade de
São Paulo" (Hucitec/Neps), de
1998, que descreveu 1.700 arquivos da capital.
É dela também a curadoria da
"Coleção São Paulo", série de livros históricos e de teses inéditas
sobre a cidade lançada em 2003
pela mesma editora Paz e Terra,
que publica agora o megaprojeto
sobre a história paulistana.
Porta, que também foi coordenadora dos projetos culturais da
Comissão dos 450 anos da Prefeitura, começou a atual empreitada
em 2001. "Sempre penso no que
precisa ser feito, nas lacunas na
historiografia sobre São Paulo. E
às tantas percebi que existia muita
pesquisa sobre a cidade, mas quase nada de síntese."
Ao enfiar o rosto nos arquivos
das universidades comprovou a
sua intuição original. Conseguiu
fazer um levantamento de mais
de 1.800 teses sobre a cidade, mas
muito pouca bibliografia que propusesse amarras a isso tudo.
Dessa imersão inicial a historiadora tirou o "script" do projeto.
"Arregaçou as mangas", expressão que usa mais de uma vez, e
elaborou uma listagem dos temas
que uma obra geral sobre São
Paulo deveria ter e outra relação
com os nomes dos principais pesquisadores dessas áreas.
Porta diz que não teve muitos
problemas para "ligar os pontos"
entre as duas listagens, apesar de
ter encontrado muitos pesquisadores de ótimo nível para alguns
temas e nenhum para outras poucas áreas, como "história da alimentação paulistana".
O elenco final de "História da
Cidade de São Paulo" é heterogêneo. Entre os autores dos 47 capítulos do trio de livros estão pesquisadores ligados a diversas universidades (sobretudo às "quatro
grandes" do Estado, USP, Unicamp, Unesp e PUC-SP), "desconhecidos" e consagrados, como
as "referências" Carlos Lemos
(arquitetura), que acumula dois
capítulos, José de Souza Martins
(sociólogo) ou Aracy Amaral
(historiadora da arte).
A "diversidade" não é marca
apenas do elenco de ensaístas da
equipe de Paula Porta. A historiadora defende que do conjunto de
artigos, que ela pretende que sejam lidos do início ao fim, pode-se
extrair como um denominador
comum a questão da diversidade
de sua população, que cruza a história paulistana em diversos pontos.
"A diversidade pulula em todas
as áreas. É a tônica da cidade e é
muito maior do que se imagina."
A presença dos negros na cidade, tratada em mais de um capítulo, é um exemplo. "Tradicionalmente o fluxo de escravos era direcionado de determinadas regiões da África para determinadas
regiões do Brasil. Quando o café
começa a ganhar força este tráfico
já não acontecia, e São Paulo puxa
escravos de diferentes regiões decadentes do país, com culturas e
origens diferentes. A migração
deles pós-abolição traz para a cidade mais um elemento de diversidade", afirma.
A mesma diversidade é particularmente discutida nos capítulos
sobre religiosidade, sobre a presença dos migrantes, dos imigrantes e até da população indígena da cidade, tema trabalhado por
John Manuel Monteiro.
Todos os ensaios, que ocupam
em média 40 páginas de livro cada, foram feitos especialmente
para o projeto, em um prazo médio de um ano e meio, e todos tiveram, por contrato, duas versões
(os autores fizeram um texto e o
discutiam com a organizadora
antes de fazerem a versão final).
Porta dividiu sua história da cidade em três blocos históricos. O
primeiro livro se ocupa do período colonial (1554-1822), seguido
do volume sobre o Império (1823-1889) e do tomo "A Primeira Metade do Século 20" (1890-1954).
Os dois primeiros volumes têm
alguns capítulos que fogem à regra e discutem os quatro séculos
englobados pelo projeto. São os
ensaios "panorâmicos" (veja quadro ao lado). "Alguns temas não
tinham densidade suficiente para
render três capítulos."
Fecham cada volume um capítulo com uma cronologia detalhada do período abordado pelo livro
e uma listagem de todos os governantes da cidade (incluindo até
vereadores), elaborada pelo decano da empreitada, o historiador
Hernâni Donato, 82.
Espalhadas pelos três livros estão ainda 380 imagens, selecionadas a partir de uma vasta pesquisa
realizada por Porta, que arrolou
11 mil delas em um banco eletrônico. "O corte das imagens foi minha maior frustração no projeto.
Estava prevista a inclusão de 1.500
em diálogo com o texto", diz a
coordenadora.
Bancada pela Petrobrás, que investiu nele R$ 938 mil, por meio
de lei de incentivo à cultura, "História da Cidade de São Paulo", terá mil exemplares doados a bibliotecas públicas. O lançamento
oficial será no próximo dia 25,
quando a "saudosa maloca" completa seus 451 anos.
HISTÓRIA DA CIDADE DE SÃO PAULO.
Organização: Paula Porta. Autores:
vários. Editora: Paz e Terra. Patrocínio:
Petrobrás. Quanto: R$ 140 (cada
exemplar; 600 págs. em média cada um).
Quando: lançamento no dia 25/1, às 12h,
no Museu Afro-Brasil (av. Pedro Álvares
Cabral, s/nš, tel. 0/xx/11/5579-0593,
parque Ibirapuera, São Paulo)
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