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CRÍTICA
Os incluídos e os excluídos
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Aviso: esta será, em princípio, a única coluna sobre o
quinto "Big Brother Brasil". A
não ser que haja algum fato novo,
aí vem mais do mesmo. O roteiro, o "Brasil inteiro" já sabe como
se desenrola. Vai entre aspas o
"Brasil" por conta do significado
a um tempo amplíssimo e apequenador que o país vem assumindo no jargão do "BBB".
Os participantes referem-se ao
país como a entidade que tudo
vê, repara e para a qual eles se
exibem em toda a sua "gostosice"
ou "esperteza" ou "idiossincrasia", dependendo do caso. Assim, a audiência do programa representaria o Brasil -e a pobre
nação amesquinha-se, reduzindo-se a quem assiste ao "BBB".
Então, o tal do "Brasil" viu nesta semana o seleto grupo daqueles que vão se digladiar -com
biquínis e sungas diminutos e toda a ginga moral que foi dada ao
povo brasileiro- por R$ 1 milhão. Mas viu também os excluídos, aqueles de quem se pode rir
à vontade, palhaços dos quais temos menos pudor em mangar.
Mesmo admitindo que a escolha seja de fato isenta, o grupo
dos incluídos pela seleção, e não
por sorteio, obedece a certos critérios bastante transparentes. Há
uma espécie de correção da aparência, um código de possibilidades e impossibilidades na forma
dos corpos, uma fronteira explícita que deixa de um lado aquilo
que é admissível ver na TV e
aquilo que não é, que parece ser
partilhada por todos.
Tanto que o programa de apresentação dos concorrentes mostra, em tom evidentemente irônico, pequenos clipes daqueles
que, na opinião da produção que
é assumida como sendo a opinião geral, nem deveriam ter
pensado que poderiam lá estar.
Eles são ou pobres demais ou
velhos demais ou gordos demais
ou ridículos demais para aspirarem à tela da TV. Assim, uma série de preconceitos, tratados como se fossem critérios naturais e
partilhados por todos explicita-se e reproduz-se.
Em primeiro lugar, a pobreza
mais evidente está de fora. As saletas e quartos apertados, as paredes sem pintura, a laje, a piscina improvisada -há que se
manter as aparências. Se você é
pobre, saiba ao menos disfarçar.
Em segundo, homens e mulheres, mas sobretudo elas, acima de
um certo peso ou idade, o que essa gente acha que pode fazer no
programa? A maneira como são
montadas as imagens pretende-se eloqüente por si só: assim, a
exibição de corpos, em uma palavra reais, é mostrada como se
fosse uma piada, tipo só pode ser
de sacanagem que essa dona
quer ficar diante das câmeras.
No terceiro grupo estão os verdadeiramente espontâneos. São
pessoas, como eu e você, que
lêem o exibicionismo com olhos
ingênuos e se revelam quase que
sem mediação, sem vergonha,
sem atinar que os comportamentos e as falas que passam na TV
estão já há muito codificados.
Nada como um "reality show"
para botar a televisão em seu lugar, ou seja, no triste papel de ser
a mais poderosa disseminadora
de preconceitos.
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