São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/exposição/"Arte Contemporânea - Aquisições Recentes (1990-2005)"

Mostra ignora cerne da coleção do MAC

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Arte Contemporânea - Aquisições Recentes (1990-2005)", no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC), em sua filial no Ibirapuera, representa bem como boa parte dos museus brasileiros atualiza seus acervos -por empréstimo e doações, e nunca por uma política contínua e programada.
Em 62 obras, a mostra apresenta as três mais significativas formas de aquisição para a instituição: doações de artistas, comodato da coleção Marcantonio Vilaça e depósito da coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. Esta última, a de aporte mais representativo ao MAC, com 1.478 obras, é representada timidamente perto do que significa. Para evitar a dispersão da coleção, a Justiça dividiu as quase 10 mil obras da Cid Collection conforme o tema de cada uma. Ao MAC coube a arte contemporânea.
Criado em 1967, a partir do acervo do então Museu de Arte Moderna, fechado por seu criador, Ciccillo Matarazzo, o MAC surgiu com a transferência dessas obras, além do acervo pessoal de Ciccillo. Esse é o coração de seu acervo, com obras modernistas relevantes, brasileiras e internacionais, mas é sabido que, de contemporâneo, só o que se refere à arte conceitual dos anos 60 e 70 tem peso.
A decisão da Justiça de depositar no MAC o acervo do banqueiro falido tem relação com o nome do museu e seu caráter público, mas nada com seu perfil. Sem uma política continuada, sujeito aos ditames da USP, com regras que excluem muitos professores de pleitearem a direção do museu, o MAC é uma das instituições museológicas mais instáveis da cidade, que só perde em descrédito para o Museu de Arte de São Paulo da gestão Julio Neves.
A exposição revela o despreparo do museu para um olhar contemporâneo. Entre tantos nomes relevantes da coleção, os destaques são Cildo Meireles e o inglês Damien Hirst. Sem desmerecer os outros brasileiros, sabe-se que o cerne da coleção de Cid Ferreira era a fotografia, com obras que incluem Andres Serrano, Cindy Sherman e Jeff Wall. Esse núcleo foi ignorado.
Numa mostra irregular, a surpresa é a série "Tributo ao Século 21", de Robert Rauschenberg, doada por ele ao museu, ao ser homenageado na 22ª Bienal de São Paulo (1994), o que não é explicado na exposição. As 22 litografias expostas representam bem o estilo de Rauschenberg, criador de uma técnica mista de pintura em arte contemporânea por ele chamada "combine painting", e são a melhor razão para a visita.


ARTE CONTEMPORÂNEA - AQUISIÇÕES RECENTES (1990-2005)  
Onde: Museu de Arte Contemporânea da USP (pq. Ibirapuera, pavilhão da Bienal, 3º piso, tel. 0/xx/11/5573-9932)
Quando: ter. a dom., das 10h às 19h; até 29/4
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Lançamentos revisitam mestres do jazz e do blues
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.