Pacote de 28 CDs do catálogo da Concord Music destaca músicos como Miles Davis, John Coltrane e Chet Baker

Nem todos os títulos são inéditos; sete deles, como "Steamin" e "Chet", foram lançados em 2003, mas já sumiram das lojas

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Esnobados pelas gravadoras durante os últimos anos, os apreciadores do jazz acabam de receber uma considerável dose de ânimo. Gravações clássicas de Miles Davis, John Coltrane, Chet Baker, Thelonious Monk, Bill Evans, Joe Pass e outros craques do gênero chegam ao mercado brasileiro, em uma seleção de 28 CDs lançados pela Universal Music.
Outros oito títulos completam a safra de lançamentos, que também inclui figurões do soul, como Isaac Hayes, Otis Redding e a banda Booker T & The MGs, além do encontro de dois gigantes do blues: Albert King e Stevie Ray Vaughan.
Os lançamentos resultam de um acordo entre a Universal e a Concord Music, gravadora americana que detém os catálogos de 22 selos independentes de jazz, blues e soul, incluindo alguns bem conceituados, como Prestige, Riverside, Fantasy, Milestone, Pablo e Stax.
Os mais fanáticos vão logo perceber que nem todos os títulos do pacote são inéditos no país. Sete deles foram lançados pela BMG, em 2003, mas já sumiram das lojas há algum tempo. São eles: "Steamin'", de Miles Davis; "Brilliant Corners", de Thelonious Monk; "Coltrane", de John Coltrane; "The Incredible Jazz Guitar", de Wes Montgomery; "Chet", de Chet Baker; "Jazz at Massey Hall", do The Quintet; e "Thelonious Monk with John Coltrane".
A nova edição desses álbuns não oferece o requinte da embalagem "digipack", que imitava as capas de papel dos antigos discos de vinil, nem a remasterização em 20 bits da versão anterior, mas o preço é mais acessível: R$ 25, em média.

Cena nova-iorquina
Com quatro títulos, incluindo duas compilações, o trompetista e cantor Chet Baker é um dos jazzistas que mais aparecem no pacote. "In New York" (1958) e "Chet" (1959) exibem seu estilo "cool", especialmente em baladas como "It Never Entered My Mind".
Ao lado de Baker estão feras da cena nova-iorquina, como o baixista Paul Chambers e o baterista Philly Joe Jones, do quinteto do trompetista Miles Davis, que brilha em "Steamin" (1956), uma de suas primeiras obras-primas.
Foi nesse cultuado grupo que despontou o sax tenor de John Coltrane, exibido no pacote em diferentes fases. Além da breve parceria com o genial pianista Thelonious Monk, em 1957, há o álbum "Coltrane", gravado no mesmo ano e marcado pela estética do hard bop. Apesar do título, "The Best of John Coltrane" não é bem uma compilação. Trata-se de uma seleção de números ao vivo, na Europa, em 1963, com destaque para os vibrantes "Afro Blue" e "Chasin" the Trane".
Os fãs do pianista Dave Brubeck podem ouvi-los em dois álbuns. Em "Plays and Plays and" (1957), só com solos de piano, ele injeta influências eruditas em vários standards.
"Near-Myth" (1961) destaca o clarinetista Bill Smith, autor de todo o repertório, mas sem o brilho do saxofonista Paul Desmond, com o qual Brubeck fez seus trabalhos mais originais.
Outro pianista com muitos admiradores é o canadense Oscar Peterson, presente em três gravações do selo Pablo. Em "The Giants" (1974), ele lidera um afiado trio com o baixista Ray Brown e o guitarrista Joe Pass. Em "Jousts", do mesmo ano, junta-se a mestres do trompete, como Clark Terry e Dizzy Gillespie. Já em "Face to Face" (1982), divide longos improvisos com o trompetista Freddie Hubbard.
Uma curiosidade do pacote é "Bossa Nova pelos Pássaros" (1963), do violonista Charlie Byrd, um dos propagadores da música brasileira nos Estados Unidos. Apesar da evidente paixão pela bossa nova, suas versões de clássicos do gênero, como "Desafinado" e "O Barquinho", soam artificiais. Típico samba tocado por gringo.
Melhor ficar com os CDs de Wes Montgomery, "The Artistry of" (1959-1963) e, especialmente, "The Incredible Jazz Guitar of" (1960), que inclui alguns dos improvisos mais surpreendentes do guitarrista.