São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro traz olhar moderno do crítico Paschoal Carlos Magno

Obra reúne textos sobre teatro publicados no "Correio da Manhã" de 1946 a 1960

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nome de salas e de edifícios teatrais pelo Brasil, o carioca Paschoal Carlos Magno (1906-1980) foi um dos protagonistas da noção de modernidade que a cultura de teatro começou a ganhar na década de 1940.
É o que ajuda a contar o livro "Crítica Teatral e Outras Histórias", que acaba de ser editado pela Funarte. Trata-se de uma seleção dos textos que Magno assinou durante 14 anos na coluna de teatro do "Correio da Manhã", de 1946 a 1960.
Ele exercia a crítica, mas, sobretudo, dava notícias da formação, literal, do teatro brasileiro. A começar pelo Teatro do Estudante do Brasil, o grupo que funda no Rio em 1938.
É sob a perspectiva de formação de ator e de público, aliada à carreira paralela de diplomata, que ele vai "inquietar a todos com as suas histórias de como se faz teatro na Inglaterra e outros países", como lembra depois o crítico e historiador Décio de Almeida Prado (1917-2000).
É por meio do Teatro dos Estudantes do Rio, do qual é um dos idealizadores, que vem à luz, em 6 de janeiro de 1948, no Fênix, o histórico "Hamlet" defendido por Sérgio Cardoso, aos 22 anos.
Dez anos depois, acontece em Recife o 1º Festival Nacional de Teatro de Estudantes. É onde acontece o primeiro julgamento de personagens, à moda inglesa, com Hamlet e Otelo defendidos respectivamente por Sérgio Cardoso e Paulo Autran. Ao todo, foram realizadas sete edições, sob o mesmo espírito de formação.
Como crítico, Magno espinafra os "primeiros atores" e "primeiras atrizes" que têm preguiça de decorar o texto, artistas-empresários à mercê do "ponto" (sujeito oculto que lhes assopra o texto, em um buraco à boca de cena).
Provoca novos paradigmas para o intérprete. "Se esse ator quiser estudar, se freqüentar a intimidade de livros e fizer de seu cérebro um caderno cheio de notas dos livros que leu, das músicas que ouviu, das exposições que visitou, da gente que observou -como ganhará no nosso teatro!", escreve em 1946.

"Clube da vaia"
Irônico, chega a sugerir um "clube da vaia" para espetáculos "lamentáveis" como o que Alda Garrido estrela em 1947, "Escandalosa", do qual se retira no segundo ato, cabisbaixo e envergonhado.
Também reclama, meio século atrás, das companhias que demonstram "absoluto desinteresse pelo autor moço" brasileiro. Em 1959, saúda com entusiasmo a temporada carioca de "Eles Não Usam Black-Tie", de Gianfrancesco Guarnieri, que José Renato montou com o grupo Teatro de Arena, de São Paulo, demarcando fôlego para a dramaturgia nacional.
Na biografia que abre o livro, Martinho de Carvalho, co-organizador com Norma Dumar, destaca ainda que Magno foi um dos que "introduziu a fala brasileira no nosso palco, onde até então imperava o sotaque lusitano".


CRÍTICA TEATRAL E OUTRAS HISTÓRIAS
Organização:
Martinho de Carvalho e Norma Dumar
Editora: Funarte
Quanto: R$ 53 (424 págs.)


Texto Anterior: Bernardo Carvalho: Contra-exemplos
Próximo Texto: Trechos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.