São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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São Paulo Fashion Week

Moda entra na era do business

Para Enzo Monzani e Conrado Will, donos da Zoomp, indústria precisa de gestão profissional

Proprietários de uma das principais grifes de jeanswear do país, empresários começaram a vestir jeans há pouco tempo

EDITOR DE MODA

No início deste ano, a venda de duas das grifes mais prestigiosas do país, a Herchcovitch; Alexandre e a Fause Haten, surpreendeu o meio da moda. Ambas entraram para a coleção de marcas do grupo I'M Identidade Moda, ao lado da Zoomp, da Zapping e da Cúmplice, adquiridas no ano passado.
Por trás da I'M -presidida por Vicente Mello- está o grupo HLDC (abreviatura de "holding company"), dos sócios Enzo Monzani, 44, paulista, e Conrado Will, 30, carioca que vive em São Paulo há 24 anos.
Os dois já podem ser considerados os nomes mais poderosos da moda brasileira -entendida como criação e design, e não como pura fabricação de roupas.
Por intermédio deles e de outros novos grupos, a moda está deixando a época do negócio familiar para entrar na era do business.
Ambos vieram do mercado financeiro. Eles se conheceram no Patrimônio Private Equity, em 1998. A primeira empresa que compraram foi a Tasa, de headhunting (colocação de executivos no mercado).
Em junho do ano passado, iniciaram, com a Zoomp, a aquisição de marcas de moda. Em julho, compraram a BenQ, indústria de montagem de celulares, que hoje se chama YVY.
Eles também assinaram um contrato para gestão das lojas Clube Chocolate, sobre a qual têm opção de compra, caso esta seja vendida pelo grupo português Riopele. O próximo passo da HLDC será a aquisição de uma companhia de óleo e gás.
No último ano, o faturamento do grupo foi de R$ 380 milhões -e R$ 180 milhões vieram das grifes da I'M. "Nós procuramos setores fragmentados que possamos consolidar. A indústria de moda ainda é muito pulverizada no Brasil, a maioria das empresas é pequena e sem gestão profissional", diz Monzani, no escritório da HLDC.
O projeto dos sócios é audacioso: criar um megagrupo de gestão de marcas, como é a PPR, dona da Gucci e outras grifes. "Para quem gosta de desafio estratégico, a moda é um negócio muito interessante", diz Will. "Ela precisa ter concentração de capital para melhorar a capacidade de investimento", completa Monzani.
Investidores como Monzani e Will são um fato novo para a moda brasileira. Mas para eles, também, a moda é um assunto inédito. Muito discretos, ainda estão aprendendo a decifrar as idiossincrasias fashion.
Numa das primeiras reuniões da Zoomp, eles chegaram a sugerir que as dançarinas Scheila Carvalho e Sheila Mello fizessem a campanha publicitária da grife. A equipe fashionista se entreolhou, assustada, e com jeito explicou aos novatos que não seria uma boa idéia.
Eles compreenderam na hora. "Talvez sejamos pouco sutis, mas somos capazes de entender as sutilezas do meio da moda", diz Monzani. A equipe descartou as gostosonas do axé e convidou Grazi Massafera.
Não foi a única coisa que espantou os sócios no reino da moda. Donos de uma das principais grifes de jeanswear, a Zoomp, eles não usavam jeans até pouco tempo. "Eu chegava nas reuniões e não havia ninguém de terno. Foi difícil acostumar a usar jeans", conta Will.
Para Monzani, "a moda é um business de gente, você acaba se conhecendo mais no final do dia". Ele compara o meio fa- shion com o do mundo dos investidores. No primeiro, conta, há muitas pessoas maquiavélicas. "Gente má, sangue ruim mesmo", ressalta. "Na moda, só existem pequenas maldades." (ALCINO LEITE NETO)


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