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CINEMA
O iraniano Abbas Kiarostami, o inglês Ken Loach e o italiano Ermanno Olmi dividem direção de longa de episódios
"Tickets" reúne mestres da câmera em trem
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Três diretores reconhecidos,
três histórias diferentes, apenas
um filme. A fórmula não é inovadora. Há várias produções desse
gênero existentes, entre elas
"Grande Hotel" (1995), que tinha
Quentin Tarantino e Robert Rodriguez entre os diretores e usava
um hotel como locação.
Entretanto "Tickets", que foi
exibido anteontem em Berlim, na
mostra principal, mas fora de
competição, trouxe uma nova
abordagem para tal estrutura ao
reunir um grupo de certa forma
eclético e de contextos culturais
bastante diversos: o iraniano Abbas Kiarostami, o inglês Ken
Loach e o italiano Ermanno Olmi.
O filme transcorre em uma viagem de trem de Viena, na Áustria,
para Roma, na Itália, e cada diretor usou um vagão desse trem como locação, em horários que se
sucedem. Em todos os episódios,
um fato é comum: um encontro
inusitado dos personagens altera
sua vida de forma repentina.
A principal surpresa fica por
conta do episódio dirigido por
Kiarostami, conhecido por suas
longas tomadas e, em geral, pouca
ação. Não é o que ocorre em "Tickets", com uma câmera em constante movimento. "Cada diretor
filma como sente. Em um trem
que corre a 80 quilômetros por
hora, eu achei que era importante
seguir esse ritmo, mesmo que
meus fãs não gostassem", disse o
cineasta iraniano, em Berlim.
O projeto do filme, para Olmi,
foi explicado como uma experiência culinária em conjunto:
"Pode ser que juntar três cozinheiros possa não resultar num
bom prato, mas nós italianos sabemos que, para elaborar um prato, o importante não é apenas o
resultado, mas compartilhar esse
prato à mesa. Essa foi justamente
a idéia: reunir esses três diretores
e compartilhar um filme".
Cada cineasta elaborou o roteiro e dirigiu seu próprio segmento,
mas alguns temas foram decididos em conjunto. "Um trem é um
local por onde muita gente passa,
onde há desentendimentos e conflitos, um perfeito local para a
idéia de reunir histórias diferentes
numa só locação", contou Loach.
No primeiro episódio, dirigido
por Olmi, um professor de cerca
de 60 anos se apaixona por uma
secretária que lhe entrega seu bilhete de trem na estação. No segundo, o de Kiarostami, uma senhora obesa e mal-humorada encontra um jovem que lhe presta
auxílio, e, no de Loach, um grupo
de imigrantes albaneses são confrontados por jovens torcedores
escoceses, que vão assistir a um
filme de seu time, em Roma.
"Creio que há alguns pontos em
comum em nossas produções.
Todos abordamos dramas do cotidiano, com foco nas relações entre pessoas simples, e foi o que fizemos em "Tickets'", conta Loach.
Apesar de falarem línguas diferentes e não terem idioma em comum, a produção não teve grandes problemas, o que, de fato, se
vê no resultado final. "Como não
falo nenhuma língua estrangeira,
minha preocupação é ver as emoções, e é disso que trata o cinema.
Na verdade, nós temos uma linguagem comum, que é o cinema.
Isso já é suficiente", afirmou ainda Olmi, enquanto seus companheiros balançavam a cabeça,
concordando com a tese.
Versão brasileira
Anteontem, Fernando Meirelles
("Cidade de Deus") anunciou que
está produzindo "Ginga", a ser
realizado por três diretores: Marcelo Machado, Hank Levine e Tocha Alves. Como o futebol é paixão nacional também na Alemanha, o diretor ganhou boa divulgação nos jornais, até porque no
ano que vem tem Copa do Mundo
por aqui. Meirelles, entretanto, fez
questão de provocar: "Não vai ser
uma Copa excitante, porque nós
já sabemos quem vai ganhar".
O jornalista Fabio Cypriano viaja a convite da organização do festival
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