São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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CINEMA

O iraniano Abbas Kiarostami, o inglês Ken Loach e o italiano Ermanno Olmi dividem direção de longa de episódios

"Tickets" reúne mestres da câmera em trem

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Três diretores reconhecidos, três histórias diferentes, apenas um filme. A fórmula não é inovadora. Há várias produções desse gênero existentes, entre elas "Grande Hotel" (1995), que tinha Quentin Tarantino e Robert Rodriguez entre os diretores e usava um hotel como locação.
Entretanto "Tickets", que foi exibido anteontem em Berlim, na mostra principal, mas fora de competição, trouxe uma nova abordagem para tal estrutura ao reunir um grupo de certa forma eclético e de contextos culturais bastante diversos: o iraniano Abbas Kiarostami, o inglês Ken Loach e o italiano Ermanno Olmi.
O filme transcorre em uma viagem de trem de Viena, na Áustria, para Roma, na Itália, e cada diretor usou um vagão desse trem como locação, em horários que se sucedem. Em todos os episódios, um fato é comum: um encontro inusitado dos personagens altera sua vida de forma repentina.
A principal surpresa fica por conta do episódio dirigido por Kiarostami, conhecido por suas longas tomadas e, em geral, pouca ação. Não é o que ocorre em "Tickets", com uma câmera em constante movimento. "Cada diretor filma como sente. Em um trem que corre a 80 quilômetros por hora, eu achei que era importante seguir esse ritmo, mesmo que meus fãs não gostassem", disse o cineasta iraniano, em Berlim.
O projeto do filme, para Olmi, foi explicado como uma experiência culinária em conjunto: "Pode ser que juntar três cozinheiros possa não resultar num bom prato, mas nós italianos sabemos que, para elaborar um prato, o importante não é apenas o resultado, mas compartilhar esse prato à mesa. Essa foi justamente a idéia: reunir esses três diretores e compartilhar um filme".
Cada cineasta elaborou o roteiro e dirigiu seu próprio segmento, mas alguns temas foram decididos em conjunto. "Um trem é um local por onde muita gente passa, onde há desentendimentos e conflitos, um perfeito local para a idéia de reunir histórias diferentes numa só locação", contou Loach.
No primeiro episódio, dirigido por Olmi, um professor de cerca de 60 anos se apaixona por uma secretária que lhe entrega seu bilhete de trem na estação. No segundo, o de Kiarostami, uma senhora obesa e mal-humorada encontra um jovem que lhe presta auxílio, e, no de Loach, um grupo de imigrantes albaneses são confrontados por jovens torcedores escoceses, que vão assistir a um filme de seu time, em Roma.
"Creio que há alguns pontos em comum em nossas produções. Todos abordamos dramas do cotidiano, com foco nas relações entre pessoas simples, e foi o que fizemos em "Tickets'", conta Loach.
Apesar de falarem línguas diferentes e não terem idioma em comum, a produção não teve grandes problemas, o que, de fato, se vê no resultado final. "Como não falo nenhuma língua estrangeira, minha preocupação é ver as emoções, e é disso que trata o cinema. Na verdade, nós temos uma linguagem comum, que é o cinema. Isso já é suficiente", afirmou ainda Olmi, enquanto seus companheiros balançavam a cabeça, concordando com a tese.

Versão brasileira
Anteontem, Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") anunciou que está produzindo "Ginga", a ser realizado por três diretores: Marcelo Machado, Hank Levine e Tocha Alves. Como o futebol é paixão nacional também na Alemanha, o diretor ganhou boa divulgação nos jornais, até porque no ano que vem tem Copa do Mundo por aqui. Meirelles, entretanto, fez questão de provocar: "Não vai ser uma Copa excitante, porque nós já sabemos quem vai ganhar".


O jornalista Fabio Cypriano viaja a convite da organização do festival


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