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O ator Ken Watanabe fala à Folha das dificuldades para encarnar o protagonista de "Cartas de Iwo Jima"
"Não sabemos lidar com nossos fracassos"
EDUARDO GRAÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
"Cartas de Iwo Jima" conta
com um elenco quase exclusivamente japonês, centrado na
figura do general Tadamishi
Kuribayashi. Para encarnar o
homem que conseguiu conter
as forças americanas por mais
de 36 dias, Clint Eastwood escolheu Ken Watanabe, 47, o
mais importante ator japonês
de seu tempo, conhecido por
"O Último Samurai" e "Memórias de uma Gueixa". Leia a seguir a entrevista que o ator concedeu à Folha.
FOLHA - "Cartas de Iwo Jima" é um
sucesso de bilheteria no Japão. O sr.
acha que isso se deve ao tratamento
respeitoso de Eastwood ao tema?
KEN WATANABE - Sim, mas, como
ator, com a visão de quem estava dentro do filme, posso dizer
que o sucesso se deve também à
maneira calma como Clint comanda um set de filmagem. Ele
estava lidando com um elenco
exclusivamente japonês e teve
de usar três tradutores para finalizar as filmagens, o que é um
trabalho extra, mas não perdeu
a delicadeza jamais.
FOLHA - Vocês conseguiram a permissão para filmar na ilha, considerada solo sagrado pelos japoneses.
Como foi a sensação?
WATANABE - Durante quatro
anos eu me preparei como nunca para encarnar o general Kuribayashi. Visitei a cidade em
que ele foi criado, uma localidade pequenina e tradicional nos
cafundós do Japão. Li tudo o
que pude sobre ele. Mas fundamental mesmo foi ter ido a Iwo
Jima. A ilha não é um lugar
muito cultuado por nós, japoneses, que temos uma dificuldade endêmica em lidar com
nossos fracassos.
O governo de Tóquio nos deu
apenas um dia para ir lá. No fim
de um dia intenso, fomos todos,
americanos e japoneses, até o
monte Suribachi, cume da ilha,
onde erguemos um memorial
para os mortos. Foi uma experiência intensa, pude de fato
sentir o espírito dos soldados
que lá pereceram e percebi que
tínhamos a obrigação de contar
a história daqueles homens. E
que tínhamos de fazê-lo juntos,
americanos e japoneses. Foi ali
que encontrei o sentido mais
profundo para fazermos "Cartas de Iwo Jima".
FOLHA - Há hoje um grande debate
no Japão opondo os defensores da
Constituição pacifista do país e os
que consideram fundamental a militarização nacional. O senhor tem
alguma opinião sobre o tema?
WATANABE - Minha posição está explicitada no filme. Espero
que todos os muitos japoneses
que foram aos cinemas ver o filme tenham refletido muitíssimo bem sobre se é mesmo tão
fundamental assim incrementarmos a corrida armamentista
no Extremo Oriente.
FOLHA - Como o senhor se sente
quando é abordado por fãs, felizes
em conversar com o ator mais japonês mais famoso de sua geração?
WATANABE - Eu acho tudo isso
muito engraçado. No fim, honestamente, acaba me dando
mais receio do que prazer. Sou
uma pessoa que cultiva diariamente a humildade e que, no
momento, por exemplo, está
mais preocupado em saber como a comunidade japonesa no
Brasil vai receber "Cartas de
Iwo Jima". Tenho grande interesse sobre esta faceta da história japonesa, a imigração para
São Paulo, e adoraria produzir
algo no Brasil.
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