São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

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Criativo, Lasciva Lula cativa seu público

Criado há nove anos, grupo lança seu primeiro álbum no Rio e já tem agendadas apresentações no Canecão

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há tempos não era assim no cenário independente do Rio, algo parecido com o irromper do Los Hermanos: total comunhão de banda e seu público, ambos em uníssono, dando a sensação de algo de muito criativo oxigenando o ouvido.
Foi assim no Teatro Odisséia, na Lapa, o lançamento de "Sublime Mundo Crânio", primeiro LP do Lasciva Lula, quarteto formado por Felipe Schuery, guga- bruno, Jamil Li Causi e Marcello Cals.
Com nove anos e 3 EPs independentes, mas nenhum LP lançado até este, o Lasciva Lula é uma banda inclassificável.
Rock é o terreno, mas a colheita de sons é variada demais para os nossos dias de "plantations" musicais e discos inteiros criados sobre uma única idéia.
"O que nos pauta é o prazer de tocar juntos e nos surpreendermos um com o outro fazendo rock. No dia em que, no processo de criação dos arranjos ou num show, um de nós não for pego de surpresa, será hora de parar", diz Felipe Schuery, autor das músicas.

Indefinição
É um pop mutante, que toma liberdades. Dá um pé na porta circense "Em Frangalhos (e Unidos)", experimenta uma canção roqueira de ninar em "Suportar", balança gostoso no surrealismo poético de "A Letra da Canção Desgovernada"...
"Nós mesmos sempre tivemos dificuldade de definir o que fazemos, e, talvez pela necessidade de as pessoas fornecerem referências, acabam se agarrando no que conseguem classificar", diz Schuery, acostumado ao rótulo de "circense".
No "Sublime Mundo Crânio", a coesão da banda não se perde na variedade de temas: do patético "Réquiem da Garota", sobre a gordinha que dança para agradar os pais a "A Letra da Canção Desgovernada", uma jóia de poesia.
Em metalinguagem inspirada, um compositor sofre com a letra de uma música e recebe conselhos de um "letrista popular": "Pediu com gentileza/ que a letra da canção priorizasse moda e amenidades". Sério?
"Já vieram dizer que eu abordava temas incômodos, pedem que eu berre menos, que façamos menos barulhento, que não fiquemos tão bêbados no palco... mas isso é rock, amigo."
Sereno fora do palco, o cantor parece possesso toda vez que se vê nele. Tem como marca a voz gutural feito um berro, sem jamais deixar de cantar.
Talvez essa seja a maior barreira para se gostar do Lasciva, mas isso não o incomoda.
"Tem a ver com minha formação musical. O primeiro disco que comprei foi o "Cabeça Dinossauro", dos Titãs, tocava tudo do Raul Seixas; e me impressionei muito com "Doolittle", do Pixies, e "How to Clean Everything", do Propagandhi.
Todos têm vozes rasgadas, vocais agressivos, catárticos."
Programado para o Canecão, em julho, o grupo agora planeja a divulgação de sua "fascinante aberração", auto-explicação fornecida em "A Letra...", em São Paulo para abril ou maio.


SUBLIME MUNDO CRÂNIO     
Artista: Lasciva Lula
Gravadora: Independente
Quanto: R$10 no site www.lascivalula.com.br


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