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Criativo, Lasciva Lula cativa seu público
Criado há nove anos, grupo lança seu primeiro álbum no Rio e já tem agendadas apresentações no Canecão
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há tempos não era assim no cenário independente do Rio, algo
parecido com o irromper do
Los Hermanos: total comunhão de banda e seu público,
ambos em uníssono, dando a
sensação de algo de muito criativo oxigenando o ouvido.
Foi assim no Teatro Odisséia,
na Lapa, o lançamento de "Sublime Mundo Crânio", primeiro LP do Lasciva Lula, quarteto
formado por Felipe Schuery,
guga- bruno, Jamil Li Causi e
Marcello Cals.
Com nove anos e 3 EPs independentes, mas nenhum LP
lançado até este, o Lasciva Lula
é uma banda inclassificável.
Rock é o terreno, mas a colheita
de sons é variada demais para
os nossos dias de "plantations"
musicais e discos inteiros criados sobre uma única idéia.
"O que nos pauta é o prazer
de tocar juntos e nos surpreendermos um com o outro fazendo rock. No dia em que, no processo de criação dos arranjos
ou num show, um de nós não
for pego de surpresa, será hora
de parar", diz Felipe Schuery,
autor das músicas.
Indefinição
É um pop mutante, que toma
liberdades. Dá um pé na porta
circense "Em Frangalhos (e
Unidos)", experimenta uma
canção roqueira de ninar em
"Suportar", balança gostoso no
surrealismo poético de "A Letra da Canção Desgovernada"...
"Nós mesmos sempre tivemos dificuldade de definir o
que fazemos, e, talvez pela necessidade de as pessoas fornecerem referências, acabam se
agarrando no que conseguem
classificar", diz Schuery, acostumado ao rótulo de "circense".
No "Sublime Mundo Crânio", a coesão da banda não se
perde na variedade de temas:
do patético "Réquiem da Garota", sobre a gordinha que dança
para agradar os pais a "A Letra
da Canção Desgovernada",
uma jóia de poesia.
Em metalinguagem inspirada, um compositor sofre com a
letra de uma música e recebe
conselhos de um "letrista popular": "Pediu com gentileza/
que a letra da canção priorizasse moda e amenidades". Sério?
"Já vieram dizer que eu abordava temas incômodos, pedem
que eu berre menos, que façamos menos barulhento, que
não fiquemos tão bêbados no
palco... mas isso é rock, amigo."
Sereno fora do palco, o cantor parece possesso toda vez
que se vê nele. Tem como marca a voz gutural feito um berro,
sem jamais deixar de cantar.
Talvez essa seja a maior barreira para se gostar do Lasciva,
mas isso não o incomoda.
"Tem a ver com minha formação musical. O primeiro disco que comprei foi o "Cabeça
Dinossauro", dos Titãs, tocava
tudo do Raul Seixas; e me impressionei muito com "Doolittle", do Pixies, e "How to Clean
Everything", do Propagandhi.
Todos têm vozes rasgadas, vocais agressivos, catárticos."
Programado para o Canecão,
em julho, o grupo agora planeja
a divulgação de sua "fascinante
aberração", auto-explicação
fornecida em "A Letra...", em
São Paulo para abril ou maio.
SUBLIME MUNDO CRÂNIO
Artista: Lasciva Lula
Gravadora: Independente
Quanto: R$10 no site www.lascivalula.com.br
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