São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

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TEATRO
Sesc traz à Grande São Paulo espetáculos que comemoram o centenário do alemão
ABC vê 28 faces de Bertolt Brecht

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Em ano de centenários no teatro, do autor espanhol Federico García Lorca ao Teatro de Moscou, passando pelo ator brasileiro Procópio Ferreira, o primeiro na lista de celebrações no palco é o dramaturgo, poeta e diretor alemão Bertolt Brecht.
"Bertolt Brecht - 100 Anos", programação de espetáculos do Sesc, chega esta semana à Grande São Paulo, com apresentações no ABC. No total, soma 28 espetáculos, entre peças de teatro, cabarés e "prelúdios".
O primeiro é "O Mendigo ou O Cachorro Morto", hoje às 15h, em São Caetano do Sul.
"As pessoas vão ter um porre de Brecht", diz Marcelo Marcus Fonseca, diretor e ator da peça "Baal", parte da programação. "Não sei se alguém vai conseguir ouvir falar em Brecht no fim do ano."
Os espetáculos vêm sendo mostrados no interior paulista desde o início do mês. Já passaram por Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Piracicaba e Santos.
Nas próximas semanas, estarão em Araraquara, São Carlos, Campinas, São José dos Campos e outras cidades. A previsão é que só cheguem à cidade de São Paulo no mês de maio, no recém-inaugurado Sesc Vila Mariana.

Antropofágico
Passadas quatro décadas das primeiras montagens brasileiras do autor, por encenadores e atores vinculados ao TBC, o que se tem nos anos 90 são "espetáculos com uma linguagem brasileira, um outro Brecht", diz Ricardo Muniz Fernandes, coordenador da área de teatro do Sesc.
Fernandes qualifica Bertolt Brecht de "o primeiro antropofágico", já que o dramaturgo se apropriava de linguagens diversas, de culturas diversas, para seus textos e encenações.
"O evento acaba tendo muitas entradas", diz o diretor Sérgio de Carvalho, de "Santa Joana dos Matadouros", com tradução de Roberto Schwarz, e "Ensaio sobre o Latão", baseado em texto teórico do dramaturgo, ambas também na programação.
"Tem entradas cômicas, musicais. Por exemplo, eu descobri que, em "Santa Joana', o Bocarra é que é o herói. E o sujeito é um canalha. As pessoas têm simpatia pela consciência que ele tem, mesmo sendo um canalha."

Cibernético
Na programação, há um "Baal", a primeira peça de Brecht, montado como "um canto de saudação ao deus Baalim (pai das prostitutas), ao deus fenício Baal, da fertilidade e fecundação da terra, o exu no candomblé", como diz o programa do espetáculo.
E há um "Eletrobrecht... Spoken World" como um "concerto de música eletrônica", um "cabaré cibernético".
Também um "Cabaré Brechtiano Tropical", com o cantor e compositor tropicalista Jorge Mautner "misturando Brecht, Weill, Hans Eisler e sambas de Noel Rosa e Wilson Batista".
Por outro lado, um "Maligno Baal, o Associal", dirigido por Márcio Aurélio, que toma como texto-base os fragmentos B6.1 a B6.27, "trabalhados por Brecht de 1930 a 1954, criando um quebra-cabeça".
Por meio dos fragmentos, apresenta as idéias do autor "sobre a diferença entre a associabilidade e não-sociabilidade".
A programação reúne diretores, companhias e músicos de origens diversas, do encenador Aderbal Freire-Filho, baseado no Rio de Janeiro, à cantora Suzana Salles, de São Paulo.

Público
A média diária de público dos espetáculos, nas cidades em que eles já estiveram, vem sendo de 600 pessoas. Um dos motivos, acredita Marcelo Fonseca, é que a entrada é gratuita.
Mas a programação vem mostrando também, diz Ricardo Fernandes, que a antropofagia do autor tem grande repercussão junto ao público. É o que faz dele um autor "contemporâneo" no Brasil, no entender do coordenador de teatro do Sesc.
Fernandes cita como exemplo um espetáculo com meninos de rua, "Meninos e Meninas Cantam Brecht", que será apresentado numa paróquia de São Caetano do Sul. É baseado em poemas do escritor, com adaptação para pagode e outros ritmos.
O que é mais difícil encontrar, na programação dos 100 anos de Brecht, é uma montagem regular, tradicional, do autor.



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