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TEATRO
Sesc traz à Grande São Paulo espetáculos que comemoram o centenário do alemão
ABC vê 28 faces de Bertolt Brecht
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Em ano de centenários no teatro, do autor espanhol Federico
García Lorca ao Teatro de Moscou, passando pelo ator brasileiro
Procópio Ferreira, o primeiro na
lista de celebrações no palco é o
dramaturgo, poeta e diretor alemão Bertolt Brecht.
"Bertolt Brecht - 100 Anos", programação de espetáculos do Sesc,
chega esta semana à Grande São
Paulo, com apresentações no
ABC. No total, soma 28 espetáculos, entre peças de teatro, cabarés
e "prelúdios".
O primeiro é "O Mendigo ou O
Cachorro Morto", hoje às 15h, em
São Caetano do Sul.
"As pessoas vão ter um porre de
Brecht", diz Marcelo Marcus Fonseca, diretor e ator da peça "Baal",
parte da programação. "Não sei se
alguém vai conseguir ouvir falar
em Brecht no fim do ano."
Os espetáculos vêm sendo mostrados no interior paulista desde o
início do mês. Já passaram por Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Piracicaba e Santos.
Nas próximas semanas, estarão
em Araraquara, São Carlos, Campinas, São José dos Campos e outras cidades. A previsão é que só
cheguem à cidade de São Paulo no
mês de maio, no recém-inaugurado Sesc Vila Mariana.
Antropofágico
Passadas quatro décadas das primeiras montagens brasileiras do
autor, por encenadores e atores
vinculados ao TBC, o que se tem
nos anos 90 são "espetáculos com
uma linguagem brasileira, um outro Brecht", diz Ricardo Muniz
Fernandes, coordenador da área
de teatro do Sesc.
Fernandes qualifica Bertolt
Brecht de "o primeiro antropofágico", já que o dramaturgo se
apropriava de linguagens diversas, de culturas diversas, para seus
textos e encenações.
"O evento acaba tendo muitas
entradas", diz o diretor Sérgio de
Carvalho, de "Santa Joana dos
Matadouros", com tradução de
Roberto Schwarz, e "Ensaio sobre
o Latão", baseado em texto teórico
do dramaturgo, ambas também
na programação.
"Tem entradas cômicas, musicais. Por exemplo, eu descobri
que, em "Santa Joana', o Bocarra é
que é o herói. E o sujeito é um canalha. As pessoas têm simpatia
pela consciência que ele tem, mesmo sendo um canalha."
Cibernético
Na programação, há um "Baal",
a primeira peça de Brecht, montado como "um canto de saudação
ao deus Baalim (pai das prostitutas), ao deus fenício Baal, da fertilidade e fecundação da terra, o exu
no candomblé", como diz o programa do espetáculo.
E há um "Eletrobrecht... Spoken
World" como um "concerto de
música eletrônica", um "cabaré
cibernético".
Também um "Cabaré Brechtiano Tropical", com o cantor e compositor tropicalista Jorge Mautner
"misturando Brecht, Weill, Hans
Eisler e sambas de Noel Rosa e
Wilson Batista".
Por outro lado, um "Maligno
Baal, o Associal", dirigido por
Márcio Aurélio, que toma como
texto-base os fragmentos B6.1 a
B6.27, "trabalhados por Brecht de
1930 a 1954, criando um quebra-cabeça".
Por meio dos fragmentos, apresenta as idéias do autor "sobre a
diferença entre a associabilidade e
não-sociabilidade".
A programação reúne diretores,
companhias e músicos de origens
diversas, do encenador Aderbal
Freire-Filho, baseado no Rio de
Janeiro, à cantora Suzana Salles,
de São Paulo.
Público
A média diária de público dos
espetáculos, nas cidades em que
eles já estiveram, vem sendo de
600 pessoas. Um dos motivos,
acredita Marcelo Fonseca, é que a
entrada é gratuita.
Mas a programação vem mostrando também, diz Ricardo Fernandes, que a antropofagia do autor tem grande repercussão junto
ao público. É o que faz dele um
autor "contemporâneo" no Brasil,
no entender do coordenador de
teatro do Sesc.
Fernandes cita como exemplo
um espetáculo com meninos de
rua, "Meninos e Meninas Cantam
Brecht", que será apresentado numa paróquia de São Caetano do
Sul. É baseado em poemas do escritor, com adaptação para pagode e outros ritmos.
O que é mais difícil encontrar,
na programação dos 100 anos de
Brecht, é uma montagem regular,
tradicional, do autor.
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