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Desde que o indie é samba
Jovens de visual roqueiro passam a usar o samba como ponto central de referência de
sua música pop
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
A imagem do jovem músico independente -o "indie"- de visual e referencial roqueiro e/ou
indie começa a ficar datada. Formam-se mais e mais artistas brasileiros que, antes refratários a
qualquer modalidade de música
brasileira e ainda apaixonados pelas guitarras do rock, hoje usam o
samba como o ponto central de
referência de seus trabalhos.
É caso, por exemplo, do artista
plástico por formação e músico
indie por vocação Romulo Fróes,
33. Sempre pelo selo independente Bizarre, ele estreou no grupo
experimental Losango Cáqui; hoje, adota o nome próprio, a carreira solo e os sambas ultramelancólicos do disco "Calado".
Ali cabem sambas de Noel Rosa
e Ataulfo Alves, mas sobretudo
criações próprias e inéditas, suas e
de parceiros como o artista plástico Nuno Ramos, 43, de quem ele é
assessor. "O que faço é canção,
antes de tudo. Samba é o que mais
gosto na vida, então é o que permeia minhas canções", defende.
Diz que seu pai, nascido na Bahia e bancário a vida toda, sempre
ouviu música brasileira da bossa
nova para trás ("acho que só aceita João Gilberto porque é seu conterrâneo"). Romulo negou o pai e
mergulhou no indie rock anos 80
e 90, de The Cure a Damon &
Naomi. Agora, faz o caminho de
volta. O pai até hoje não lhe contou se gosta de seus sambas.
Experiência mais pop e cruzada
é a do grupo paulistano Numismata, formado por cinco rapazes
entre 22 e 29 anos. A base instrumental da banda é de guitarras,
baixo e bateria, mas o que sai da
caixa de som é... samba.
Cartola e Monsueto são homenageados, e Jards Macalé e Skowa
participam, mas guitarras aprendidas dos Flaming Lips e até a psicodelia de Vanusa ("Atômico Platônico", 68) cabem na receita de
"Brazilians on the Moon", editado no final de 2003 pelo selo Outros Discos. "A gente é uma banda
de samba tocando rock. As estruturas harmônicas são de música
brasileira, não de rock", condensa
o compositor e guitarrista Adalberto Rabelo Filho, 28.
Na confluência Olinda-Rio de
Janeiro, há ainda o exemplo do
pós-roqueiro China, 24. Ex-líder
da banda pernambucana de punk
e hardcore Sheik Tosado, China é
um dos inauguradores do novo
selo carioca Cardume.
"Um Só" deixa para lá o hardcore e faz algo que sua gravadora
chama de "samba nervoso", em
que cabem vocais tipo bossa nova
e releitura de "Samba e Amor"
(68), de Chico Buarque.
"Comecei a tocar o que realmente ouvia em casa. Gostava do
que fazia com o Sheik, mas quase
não ouço rock", afirma. "Como
não sabia tocar violão direito, não
conseguia fazer o que queria. Ouvia Jorge Ben e fazia hardcore."
Completa China, sobre o trabalho de agora: "Não sei se é samba
assim, samba assado, intimismo
tropical, samba nervoso... Não sei
o que estou fazendo".
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