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"INDIE SAMBA"
Artistas paulistanos discutem a identidade e o teor de melancolia do estilo tido como tipicamente brasileiro
Gênero vira importado no "túmulo" de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Reunidos pela Folha para uma
discussão sobre "indie samba",
Romulo Fróes e os integrantes do
Numismata explicam o que o
samba anda fazendo no indie
rock de São Paulo (que teria sido
apelidada por Vinicius de Moraes
de "o túmulo do samba").
"Não existe samba paulista, o
samba é carioca. Aqui não há referencial, escola. O único sambista
tipicamente paulista que existe é
Adoniran Barbosa", diz Adalberto Rabelo Filho. "Adoro Adoniran e Paulo Vanzolini, mas minha
música não tem nenhuma ligação
com eles, mas com Ismael Silva,
Cartola", separa-se Fróes.
"São Paulo é uma cultura mais
vira-lata", diz. "A gente ouviu
muita coisa, sem freqüentar roda
de samba", emenda o cantor Piero Damiani, 29. "Para nós o samba é identidade privada, não está
no nosso meio", segue o guitarrista André Vilela, 29.
Seria então, para eles, uma metodologia "importada", que eles
usariam não como finalidade,
mas como ferramenta. Algo como o hip hop que músicos periféricos de São Paulo importam dos
EUA? "Não, o samba nasceu no
Rio de Janeiro. O hip hop não é
brasileiro, ponto", discorda Fróes.
Mas ele padece, sim, da sensação de "identidade roubada". "O
mais difícil para mim é fazer um
samba que pareça meu, não do
Paulinho da Viola ou do Cartola.
É meta para uma vida inteira."
O instrumental do samba interessaria, em seu caso, pelo teor de
melancolia que ele vê no gênero
-e no seu trabalho.
"O Brasil é tímido, a música brasileira é triste", apressa-se Fróes.
"A dolência que permeia a música
brasileira é um pouco impingida.
Talvez o Numismata possa ser
um pouco triste, mas eu não gostaria de me sentir obrigado a isso", diverge Adalberto -"uma
amiga até nos disse que não sabia
que a gente era banda de pagode",
brinca André.
As trocas de identidade se dão,
também, com músicos contemporâneos do Rio, que os paulistas
não deixam de citar, como Los
Hermanos, Domenico Lancellotti, Moreno Veloso e Kassin. "O
que me deixa feliz é ver que a gente começou a fazer música legal de
novo", decreta Fróes.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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