São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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"INDIE SAMBA"

Artistas paulistanos discutem a identidade e o teor de melancolia do estilo tido como tipicamente brasileiro

Gênero vira importado no "túmulo" de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Reunidos pela Folha para uma discussão sobre "indie samba", Romulo Fróes e os integrantes do Numismata explicam o que o samba anda fazendo no indie rock de São Paulo (que teria sido apelidada por Vinicius de Moraes de "o túmulo do samba").
"Não existe samba paulista, o samba é carioca. Aqui não há referencial, escola. O único sambista tipicamente paulista que existe é Adoniran Barbosa", diz Adalberto Rabelo Filho. "Adoro Adoniran e Paulo Vanzolini, mas minha música não tem nenhuma ligação com eles, mas com Ismael Silva, Cartola", separa-se Fróes.
"São Paulo é uma cultura mais vira-lata", diz. "A gente ouviu muita coisa, sem freqüentar roda de samba", emenda o cantor Piero Damiani, 29. "Para nós o samba é identidade privada, não está no nosso meio", segue o guitarrista André Vilela, 29.
Seria então, para eles, uma metodologia "importada", que eles usariam não como finalidade, mas como ferramenta. Algo como o hip hop que músicos periféricos de São Paulo importam dos EUA? "Não, o samba nasceu no Rio de Janeiro. O hip hop não é brasileiro, ponto", discorda Fróes.
Mas ele padece, sim, da sensação de "identidade roubada". "O mais difícil para mim é fazer um samba que pareça meu, não do Paulinho da Viola ou do Cartola. É meta para uma vida inteira."
O instrumental do samba interessaria, em seu caso, pelo teor de melancolia que ele vê no gênero -e no seu trabalho.
"O Brasil é tímido, a música brasileira é triste", apressa-se Fróes. "A dolência que permeia a música brasileira é um pouco impingida. Talvez o Numismata possa ser um pouco triste, mas eu não gostaria de me sentir obrigado a isso", diverge Adalberto -"uma amiga até nos disse que não sabia que a gente era banda de pagode", brinca André.
As trocas de identidade se dão, também, com músicos contemporâneos do Rio, que os paulistas não deixam de citar, como Los Hermanos, Domenico Lancellotti, Moreno Veloso e Kassin. "O que me deixa feliz é ver que a gente começou a fazer música legal de novo", decreta Fróes.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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