São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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Arnaldo concilia o poeta e o garoto

DA REPORTAGEM LOCAL

Em outro campo de tradição e/ ou experimentação mora hoje o veterano Arnaldo Antunes, 43, que lança agora o sexto álbum solo, "Saiba", o primeiro pelo selo próprio Rosa Celeste, distribuído por sua antiga gravadora, BMG.
É o primeiro trabalho de Arnaldo após a experiência pop dos Tribalistas, com Marisa Monte e Carlinhos Brown. As marcas dos Tribalistas estão evidentes.
"É um disco mais sereno, mais fora do universo do rock'n'roll. É menos agressivo, mais de canções. O único rock é "A Razão Dá-Se a Quem Tem", uma releitura de um samba antigo", explica.
Também o experimentalismo concretista do tempo de "Nome" (93) aparece suavizado, num CD eminentemente melódico e suave -é o caso das inspiradas "Imaginou", "Se Assim Quiser" e o pop tribalista "Consumado".
"Nome" tentava violentar o formato de canção, era quase de não-canções. Tudo o que fiz depois é mais conformado ao formato de canção", afirma.
Mas ainda convivem, nele, o "underground" que não vende milhões sozinho e o manipulador pop que estoura em aventuras coletivas (Titãs, Tribalistas). "Não vejo um muro entre as duas categorias, o trânsito está vivo. Achava "Nome" pop, estava iludido."
Seria Marisa Monte agente com senso de marketing suficiente para fazer de Arnaldo e Brown sucessos de massa? "Não sei fazer estratégia de marketing, nem diria que Marisa sabe."
Oscila quando perguntado sobre possível jabaculê (música executada nas rádios mediante pagamento das gravadoras) nos Tribalistas, ironizado na letra de "Consumado", que os autores sonham que toque "na rádio e sem jabá".
"Não participo disso, não sei de nada. Mas é claro que sempre vou achar que existe jabá, porque é algo que existe em todos os casos, em tudo da indústria", diz. A EMI, que lançou os Tribalistas, não se manifesta sobre o assunto.
Perto do pop "Consumado", há uma faixa experimental, descrita por ele como "funk-macumba". Composta e executada por Brown e Arnaldo, sem Marisa, "Elizabete no Chuí" soa quase como um tecno baiano feito de modo mais acústico que eletrônico. "Prezo muito a clareza, Brown é do vôo. Juntos, fazemos uma síntese."
Outra faceta híbrida salta agora aos ouvidos: entre poesia adulta e compenetrada, vários dos temas soam quase infantis, casos de "Saiba", "Cabimento", "Se Assim Quiser", "A Nossa Casa".
"Tenho quatro filhos, um vínculo natural com criança. Fiz "Saiba" colocando meu filho de dois anos para dormir, depois é que veio a letra", assume.
Reconhece a possibilidade de um dia se inserir na tradição de música infantil já freqüentada por Vinicius de Moraes e Chico Buarque. "Me vejo fazendo, mas não tenho nenhum projeto concreto."
Por enquanto, beneficia-se em deixar conviver, em "Saiba", o garoto e o adulto, o marginal e o acomodado, o experimentador agressivo e o cancionista apaziguado. (PAS)


Saiba
   
Artista: Arnaldo Antunes
Lançamento: Rosa Celeste/BMG
Quanto: R$ 30, em média



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