|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Arnaldo concilia o poeta e o garoto
DA REPORTAGEM LOCAL
Em outro campo de tradição e/
ou experimentação mora hoje o
veterano Arnaldo Antunes, 43,
que lança agora o sexto álbum solo, "Saiba", o primeiro pelo selo
próprio Rosa Celeste, distribuído
por sua antiga gravadora, BMG.
É o primeiro trabalho de Arnaldo após a experiência pop dos
Tribalistas, com Marisa Monte e
Carlinhos Brown. As marcas dos
Tribalistas estão evidentes.
"É um disco mais sereno, mais
fora do universo do rock'n'roll. É
menos agressivo, mais de canções. O único rock é "A Razão Dá-Se a Quem Tem", uma releitura de
um samba antigo", explica.
Também o experimentalismo
concretista do tempo de "Nome"
(93) aparece suavizado, num CD
eminentemente melódico e suave
-é o caso das inspiradas "Imaginou", "Se Assim Quiser" e o pop
tribalista "Consumado".
"Nome" tentava violentar o formato de canção, era quase de não-canções. Tudo o que fiz depois é
mais conformado ao formato de
canção", afirma.
Mas ainda convivem, nele, o
"underground" que não vende
milhões sozinho e o manipulador
pop que estoura em aventuras coletivas (Titãs, Tribalistas). "Não
vejo um muro entre as duas categorias, o trânsito está vivo. Achava "Nome" pop, estava iludido."
Seria Marisa Monte agente com
senso de marketing suficiente para fazer de Arnaldo e Brown sucessos de massa? "Não sei fazer
estratégia de marketing, nem diria que Marisa sabe."
Oscila quando perguntado sobre possível jabaculê (música executada nas rádios mediante pagamento das gravadoras) nos Tribalistas, ironizado na letra de "Consumado", que os autores sonham
que toque "na rádio e sem jabá".
"Não participo disso, não sei de
nada. Mas é claro que sempre vou
achar que existe jabá, porque é algo que existe em todos os casos,
em tudo da indústria", diz. A
EMI, que lançou os Tribalistas,
não se manifesta sobre o assunto.
Perto do pop "Consumado", há
uma faixa experimental, descrita
por ele como "funk-macumba".
Composta e executada por Brown
e Arnaldo, sem Marisa, "Elizabete
no Chuí" soa quase como um tecno baiano feito de modo mais
acústico que eletrônico. "Prezo
muito a clareza, Brown é do vôo.
Juntos, fazemos uma síntese."
Outra faceta híbrida salta agora
aos ouvidos: entre poesia adulta e
compenetrada, vários dos temas
soam quase infantis, casos de
"Saiba", "Cabimento", "Se Assim
Quiser", "A Nossa Casa".
"Tenho quatro filhos, um vínculo natural com criança. Fiz "Saiba" colocando meu filho de dois
anos para dormir, depois é que
veio a letra", assume.
Reconhece a possibilidade de
um dia se inserir na tradição de
música infantil já freqüentada por
Vinicius de Moraes e Chico Buarque. "Me vejo fazendo, mas não
tenho nenhum projeto concreto."
Por enquanto, beneficia-se em
deixar conviver, em "Saiba", o garoto e o adulto, o marginal e o
acomodado, o experimentador
agressivo e o cancionista apaziguado.
(PAS)
Saiba
Artista: Arnaldo Antunes
Lançamento: Rosa Celeste/BMG
Quanto: R$ 30, em média
Texto Anterior: Teresa Cristina preserva o front da "pureza" Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|