São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

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Teresa Cristina preserva o front da "pureza"

DA REPORTAGEM LOCAL

Embora avancem as experiências de recombinação, ainda resiste a vertente dos artistas novos que preferem que "não me altere o samba tanto assim", como diria Paulinho da Viola.
Porta-bandeira desse segmento é a carioca Teresa Cristina, 36, que se lançou cantando Paulinho e acaba de estrear também como compositora, no álbum "A Vida me Fez Assim" (Deckdisc).
O samba tradicional do Recôncavo Baiano, onde nasceram seus pais, é uma das referências centrais no novo trabalho. Os jongos interioranos são hoje outra âncora para a sambista urbana.
Teresa metaforiza a resistência à "contaminação" do samba ao criticar a miscigenação como descrita por Gilberto Freyre, que ela estudou na faculdade.
"Fiquei irritada com "Casa Grande e Senzala", o professor me achava rancorosa. Achava que aquilo tudo ficava amenizado como num romance. A negra escrava foi estuprada pelo branco. Se gostava de alguém, era do marido, que não veio com ela, ficou na África", enfrenta.
As opiniões sobre "pureza" oscilam entre os integrantes de seu miscigenado Grupo Semente. "Qualquer grupo pop hoje em dia diz que faz samba. Põe "Samba Poconé" como título do disco, hoje isso dá status", diz o violonista Bernardo Dantas, 33. "Acham que estão misturando, mas o que fazem é Frankenstein."
"O que ninguém consegue explicar é por que samba não é considerado MPB", toca noutro ponto delicado o produtor do disco, o veterano Paulão Sete Cordas, 46.
Teresa tenta arejar o ar tradicionalista. Diz que gosta de Roberto Carlos, Lulu Santos e Chico Science; até se imagina cantando tais coisas. "Mas talvez não fosse a melhor decisão fazer com o Semente", emenda Bernardo.
Mesmo em São Paulo há exemplos de tradicionalismo, como o Quinteto em Branco e Preto e Fabiana Cozza, 28, que prepara para junho sua estréia independente, cantando Silas de Oliveira, Wilson das Neves, Paulo César Pinheiro, samba-enredo paulistano e inéditas.
"É claro que bebo da pureza do samba, porque fui criada nisso também. Mas não sou purista, quero transformar a tradição numa outra coisa, mais contemporânea", diz, situando-se entre Grupo Semente e Romulo Fróes.
Por fim, Teresa Cristina exprime opinião que a aproxima dos indie-sambistas modernos: "Hoje as pessoas têm vergonha de falar que não gostam de samba. É uma questão de identidade nacional". Mas ainda há quem não goste de samba, isso há. (PAS)


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