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Teresa Cristina preserva o front da "pureza"
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora avancem as experiências de recombinação, ainda resiste a vertente dos artistas novos
que preferem que "não me altere
o samba tanto assim", como diria
Paulinho da Viola.
Porta-bandeira desse segmento
é a carioca Teresa Cristina, 36, que
se lançou cantando Paulinho e
acaba de estrear também como
compositora, no álbum "A Vida
me Fez Assim" (Deckdisc).
O samba tradicional do Recôncavo Baiano, onde nasceram seus
pais, é uma das referências centrais no novo trabalho. Os jongos
interioranos são hoje outra âncora para a sambista urbana.
Teresa metaforiza a resistência à
"contaminação" do samba ao criticar a miscigenação como descrita por Gilberto Freyre, que ela estudou na faculdade.
"Fiquei irritada com "Casa
Grande e Senzala", o professor me
achava rancorosa. Achava que
aquilo tudo ficava amenizado como num romance. A negra escrava foi estuprada pelo branco. Se
gostava de alguém, era do marido,
que não veio com ela, ficou na
África", enfrenta.
As opiniões sobre "pureza" oscilam entre os integrantes de seu
miscigenado Grupo Semente.
"Qualquer grupo pop hoje em dia
diz que faz samba. Põe "Samba
Poconé" como título do disco, hoje isso dá status", diz o violonista
Bernardo Dantas, 33. "Acham
que estão misturando, mas o que
fazem é Frankenstein."
"O que ninguém consegue explicar é por que samba não é considerado MPB", toca noutro ponto delicado o produtor do disco, o
veterano Paulão Sete Cordas, 46.
Teresa tenta arejar o ar tradicionalista. Diz que gosta de Roberto
Carlos, Lulu Santos e Chico Science; até se imagina cantando tais
coisas. "Mas talvez não fosse a
melhor decisão fazer com o Semente", emenda Bernardo.
Mesmo em São Paulo há exemplos de tradicionalismo, como o
Quinteto em Branco e Preto e Fabiana Cozza, 28, que prepara para
junho sua estréia independente,
cantando Silas de Oliveira, Wilson das Neves, Paulo César Pinheiro, samba-enredo paulistano
e inéditas.
"É claro que bebo da pureza do
samba, porque fui criada nisso
também. Mas não sou purista,
quero transformar a tradição numa outra coisa, mais contemporânea", diz, situando-se entre
Grupo Semente e Romulo Fróes.
Por fim, Teresa Cristina exprime opinião que a aproxima dos
indie-sambistas modernos: "Hoje
as pessoas têm vergonha de falar
que não gostam de samba. É uma
questão de identidade nacional".
Mas ainda há quem não goste de
samba, isso há.
(PAS)
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