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Pato Fu abandona seu lado
"engraçadinho" no quarto CD
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
A banda mineira Pato Fu vai
chegando à vida adulta. "Televisão
de Cachorro", seu quarto CD,
marca o abandono do até agora
sempre presente lado "engraçadinho". Em troca, o quarteto quer
trocar atitude por música.
"Estamos preocupados com o
resultado final da música. A atitude que a acompanha é pouco importante para nós", define o guitarrista, compositor e vocalista
John, 32, referindo-se ao verniz de
"bom comportamento" que vem
acompanhando o Pato Fu.
"É que as idéias estão todas gastas mesmo", diz a vocalista e guitarrista Fernanda Takai, 26. "Hoje
há mais responsabilidade, noção
de carreira, de trabalho mesmo."
Atitudes à parte, a banda, que
pela primeira vez compõe letra
com teor político -"Licitação",
que faz alusões mais ou menos diretas ao "rouba, mas faz" de Paulo
Maluf e aos rebolados de Carla Perez-, já se apressa em declarar
seu voto nas próximas eleições.
Três quartos do Fu já optaram
por FHC. "Até há dois meses também estava decidido por ele, mas
agora tenho um pouco de dúvida,
o desemprego está assustador",
relativiza John.
A redução no uso do humor é
marca de "Televisão de Cachorro". "Algumas pessoas superestimaram nosso humor. Fazemos a
coisa a sério, colocamos uma piadinha lá no meio e é essa que fica.
Por isso estamos usando o humor
com mais parcimônia, para não
bagunçar o coreto", diz John.
No front musical, a banda se esforça uma vez mais por escapar do
estigma de "Mutantes dos anos
90", que passara a receber após o
disco "Gol de Quem?" (95) e de
que já tentava se esguiar no experimental "Tem mas Acabou" (96).
"A gente abomina a comparação. Não temos pretensão nenhuma de repeti-los, soaria pedante
tentar. Eles eram mais irônicos,
mais políticos", afirma o baixista
Ricardo Koctus, 29.
Fernanda vai além: "Até quero
fazer um protesto: nossa maior influência são os anos 80, a new wave -Talking Heads, Devo, B-52's.
Isso ninguém fala".
Para sedimentar a influência dos
80, há em "Televisão de Cachorro"
uma versão de "Eu Sei", da Legião
Urbana, que acontece três faixas
adiante de "A Necrofilia da Arte",
brincadeira feita por cima da melodia de "Alfomega" (69), de Gilberto Gil.
"Gravar Legião para nós não é
necrofilia. Renato Russo era nosso
amigo, elogiava a banda. Quando
John Lennon morreu, eu nem sabia quem ele era e no fim da tarde
já estava chorando. Isso, sim, é necrofilia", afirma John.
"Cantávamos "Eu Sei' antes de
ele morrer. Se fosse Tim Maia, podia ser necrofilia", concorda Ricardo. "Não podemos ficar nos
policiando, senão não fazemos nada", atalha o baterista Xande, 25.
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