São Paulo, quinta, 16 de abril de 1998

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Pato Fu abandona seu lado "engraçadinho" no quarto CD

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

A banda mineira Pato Fu vai chegando à vida adulta. "Televisão de Cachorro", seu quarto CD, marca o abandono do até agora sempre presente lado "engraçadinho". Em troca, o quarteto quer trocar atitude por música.
"Estamos preocupados com o resultado final da música. A atitude que a acompanha é pouco importante para nós", define o guitarrista, compositor e vocalista John, 32, referindo-se ao verniz de "bom comportamento" que vem acompanhando o Pato Fu.
"É que as idéias estão todas gastas mesmo", diz a vocalista e guitarrista Fernanda Takai, 26. "Hoje há mais responsabilidade, noção de carreira, de trabalho mesmo."
Atitudes à parte, a banda, que pela primeira vez compõe letra com teor político -"Licitação", que faz alusões mais ou menos diretas ao "rouba, mas faz" de Paulo Maluf e aos rebolados de Carla Perez-, já se apressa em declarar seu voto nas próximas eleições.
Três quartos do Fu já optaram por FHC. "Até há dois meses também estava decidido por ele, mas agora tenho um pouco de dúvida, o desemprego está assustador", relativiza John.
A redução no uso do humor é marca de "Televisão de Cachorro". "Algumas pessoas superestimaram nosso humor. Fazemos a coisa a sério, colocamos uma piadinha lá no meio e é essa que fica. Por isso estamos usando o humor com mais parcimônia, para não bagunçar o coreto", diz John.
No front musical, a banda se esforça uma vez mais por escapar do estigma de "Mutantes dos anos 90", que passara a receber após o disco "Gol de Quem?" (95) e de que já tentava se esguiar no experimental "Tem mas Acabou" (96).
"A gente abomina a comparação. Não temos pretensão nenhuma de repeti-los, soaria pedante tentar. Eles eram mais irônicos, mais políticos", afirma o baixista Ricardo Koctus, 29.
Fernanda vai além: "Até quero fazer um protesto: nossa maior influência são os anos 80, a new wave -Talking Heads, Devo, B-52's. Isso ninguém fala".
Para sedimentar a influência dos 80, há em "Televisão de Cachorro" uma versão de "Eu Sei", da Legião Urbana, que acontece três faixas adiante de "A Necrofilia da Arte", brincadeira feita por cima da melodia de "Alfomega" (69), de Gilberto Gil.
"Gravar Legião para nós não é necrofilia. Renato Russo era nosso amigo, elogiava a banda. Quando John Lennon morreu, eu nem sabia quem ele era e no fim da tarde já estava chorando. Isso, sim, é necrofilia", afirma John.
"Cantávamos "Eu Sei' antes de ele morrer. Se fosse Tim Maia, podia ser necrofilia", concorda Ricardo. "Não podemos ficar nos policiando, senão não fazemos nada", atalha o baterista Xande, 25.



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