|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Autor faz jornalismo "faça-você-mesmo" e cria narrativa "saborosa"
DE WASHINGTON
O jornalismo "faça-você-mesmo", em que o repórter cruza a fronteira que o separa do objeto de seu
interesse e vira ele próprio protagonista, pode dar literatura
de boa qualidade ou o chamado
"jornalismo gonzo", mais pitoresco, do qual o pai é o psicodélico Hunter S. Thompson
(1937-2005) -ambos não necessariamente excludentes.
"Calor" se encaixa mais no
primeiro caso. Ao narrar suas
aventuras como "escravo" da
cozinha de Mario Batali e
"aprendiz espiritual" do "macellaio" (açougueiro, mas mais
do que isso) italiano Dario Cecchini, Bill Buford envolve o leitor com duas biografias de dois
personagens improváveis.
Um é o filho de filho de italianos que ajuda, para o bem e para o mal, a levar a alta gastronomia italiana às massas americanas, via Food Network -reconhecido num estádio, o chef é
celebrado pela torcida aos gritos de "Molto Mario!", o nome
de seu programa na emissora.
Outro é o poeta das facas e lâminas, um samurai da "salumeria" que recita cantos da "Divina Comédia", de Dante, sempre
que bêbado e até as lágrimas
enquanto ensina um assustado
Buford a fazer o "ragù" perfeito.
A entremear a narrativa, o
jornalista aprende italiano e vai
atrás de escritos originais do
século 15 para saber exatamente o momento em que os italianos passaram a usar gema na
confecção da pasta e outros detalhismos, com uma disposição
e tempo que só a imprensa
americana (ainda) permite.
O resultado é, desculpe o clichê, mais que saboroso.
(SD)
AVALIAÇÃO: bom
Texto Anterior: Trecho Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|