São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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Crítica

Autor faz jornalismo "faça-você-mesmo" e cria narrativa "saborosa"

DE WASHINGTON

O jornalismo "faça-você-mesmo", em que o repórter cruza a fronteira que o separa do objeto de seu interesse e vira ele próprio protagonista, pode dar literatura de boa qualidade ou o chamado "jornalismo gonzo", mais pitoresco, do qual o pai é o psicodélico Hunter S. Thompson (1937-2005) -ambos não necessariamente excludentes.
"Calor" se encaixa mais no primeiro caso. Ao narrar suas aventuras como "escravo" da cozinha de Mario Batali e "aprendiz espiritual" do "macellaio" (açougueiro, mas mais do que isso) italiano Dario Cecchini, Bill Buford envolve o leitor com duas biografias de dois personagens improváveis.
Um é o filho de filho de italianos que ajuda, para o bem e para o mal, a levar a alta gastronomia italiana às massas americanas, via Food Network -reconhecido num estádio, o chef é celebrado pela torcida aos gritos de "Molto Mario!", o nome de seu programa na emissora.
Outro é o poeta das facas e lâminas, um samurai da "salumeria" que recita cantos da "Divina Comédia", de Dante, sempre que bêbado e até as lágrimas enquanto ensina um assustado Buford a fazer o "ragù" perfeito.
A entremear a narrativa, o jornalista aprende italiano e vai atrás de escritos originais do século 15 para saber exatamente o momento em que os italianos passaram a usar gema na confecção da pasta e outros detalhismos, com uma disposição e tempo que só a imprensa americana (ainda) permite.
O resultado é, desculpe o clichê, mais que saboroso. (SD)

AVALIAÇÃO: bom


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