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JOÃO PEREIRA COUTINHO
Bye-bye, Tony
Falar de Blair é falar, em termos partidários, do mais longo consulado trabalhista da história do Reino Unido
TONY BLAIR diz adeus a Downing Street. Não ouço aplausos em volta. Fato: os ingleses
nunca foram afetuosos com seus políticos. Churchill é hoje figura gigantesca do século 20 e, sem exagero, foi
sacramental na vitória dos aliados
na Segunda Guerra.
Em 1945, os ingleses agradeceram
o heroísmo do velho Winston. E depois indicaram-lhe a porta da rua,
votando em Attlee. Todas as carreiras políticas terminam em fracasso.
Na Inglaterra, todas as carreiras políticas terminam num fracasso ainda mais amargo.
Injusto. Falar de Blair é falar, em
termos partidários, do mais longo
consulado trabalhista da história do
Reino Unido, um fato que a velha
guarda do partido não perdoa nem
compreende. Pelo contrário: lemos
os obituários de Blair, e a acusação é
recorrente. Blair não tocou na herança Thatcher em matéria econômica e procurou, com a célebre Terceira Via, conservar o neoliberalismo com uns pós de consciência social. Um traidor sem memória nem
princípios, dizem.
Os críticos de Blair esquecem, ou
então ignoram, que foi precisamente pelo fato de Blair não ter mexido
na herança Thatcher que os trabalhistas regressaram ao poder depois
de 18 anos de deserto. Sem posicionar o partido ao centro, enterrando
os últimos tiques estatistas de uma
esquerda jurássica, o deserto te-
ria continuado. Um traidor? Qualquer partido gostaria de um trai-
dor assim.
Qualquer partido e qualquer país.
Verdade que a Inglaterra não resolveu problemas sérios na educação e
na saúde, onde o investimento maciço no serviço público oferece resultados pouco inspiradores. E o crime subiu nos dez anos de Blair, conseqüência inevitável dos falhanços
trabalhistas nas políticas de família.
Mas, em contrapartida, o crescimento econômico foi permanente,
ainda que agrilhoado por carga fis-
cal excessiva. Qualquer europeu,
hoje, sabe que a possibilidade de um
futuro está em Londres, não em
Bruxelas ou Paris. Quando Sarkozy,
presidente francês recentemente
eleito, afirma que Londres é a sétima cidade francesa (300 mil gauleses vivem e trabalham na capital), é
difícil não perceber um certo tom de
admiração e inveja na voz do novo
Napoleão.
Isso não basta? Naturalmente que
não. Geoffrey Wheatcroft, em artigo
recente para o "Financial Times",
relembrava que Neville Chamberlain foi um mago econômico entre
1931 e 1937, ressuscitando as finanças britânicas depois da Grande Depressão. Mas Chamberlain estará
sempre associado a uma palavra:
"Munique". A capitulação face a Hitler é o seu epitáfio.
O verdadeiro julgamento sobre
Blair não será feito agora. Será feito
amanhã, com o destino do Oriente
Médio nas próximas gerações. Saberemos então se a "Munique" de Blair
se escreve nas areias de Bagdá, como
se presume. Seria uma suprema injustiça para o mais brilhante político
da sua geração, cujo estilo e substância é copiado sem disfarce por David
Cameron, o delfim conservador que
se segue. Mas quem procura a justiça na arena política está seriamente
equivocado.
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