|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
62º FESTIVAL DE CANNES
Festival recebe padre vampiro
Sul-coreano Park Chan-wook mostra "Thrist", "romance vampiresco" com cenas sensuais e cruéis
Diretor diz que pensou "na profissão mais humanista que existe'; filme sobre paixão de John Keats é outro destaque em Cannes
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Sexo, sangue e uma boa dose
de humor. Com esses elementos, o cineasta sul-coreano Park
Chan-wook ("Oldboy") introduziu na disputa pela Palma de
Ouro do 62º Festival de Cannes
um "romance vampiresco".
É assim que Chan-wook classifica "Thrist", em que um padre cheio de compaixão pela
humanidade se converte em
vampiro após passar por um
experimento científico para
chegar a uma vacina capaz de
neutralizar um vírus mortal.
Além de lhe impor uma "alimentação diferenciada", como
o padre, interpretado pelo ator
Song Kang-ho, aponta com graça, sua nova condição acende
nele o apetite sexual.
Na mulher de um ex-colega
de infância, o vampiro encontra uma parceira igualmente
sedenta. O marido e a sogra dela são obstáculos cujo enfrentamento suscita divergências entre o casal de amantes -além
das cenas mais cruéis.
À encenação do sexo Park
deu um tom sensual e distante
da vulgaridade. "Eu queria que
esse filme despertasse no espectador os cinco sentidos, e
não fosse apenas para ver e ouvir", disse o cineasta.
A decisão de que o personagem seria padre foi tomada, segundo Park, pensando "na profissão mais humanista que
existe". A partir daí, ele concluiu que poderia explorar o dilema de alguém que sempre
quer fazer o bem confrontado
com a necessidade de matar para sobreviver. A combinação
entre sexo, sangue e elementos
sobrenaturais na relação de um
casal é o mote também de "Anticristo", de Lars Von Trier, a
ser exibido na segunda.
O grande amor de Keats
De Jane Campion ("O Piano"), foi apresentado romance
marcado pelas tintas conservadoras da Inglaterra do século
19. "Bright Star" empresta seu
título de um poema que John
Keats (1795-1821) escreveu para Fanny Brawne, seu grande
amor, com quem não se casou
por dificuldades econômicas
-pobre, Keats teve tuberculose e morreu aos 25 anos.
"Há muitas maneiras de contar a história de Keats", disse
Campion. "Esse foi o meu jeito,
pelo ponto de vista de Fanny."
A diretora afirmou que, ao estudar a história do casal, se
apaixonou "por Fanny tanto
quanto por Keats".
Numa época "em que as mulheres não tinham muito como
se expressar", conforme salientou Campion, Fanny se dedicava à costura, característica que
o filme retrata como um interesse fashion "avant la lettre".
A opção de contar a história pelo olhar de Fanny fez Campion
abrir seu filme com a garota
costurando um vestido branco
e encerrá-lo com ela tecendo
um modelo preto.
Na curva que o longa descreve entre o nascimento e o fim
do amor, a diretora soube evitar os tiques do filme inglês de
época. "O importante era contar uma história íntima. Então,
mantive o filme o mais simples
possível. Queria que os personagens de fato existissem naquele lugar, que tivessem uma
presença, independentemente
do tempo em que viveram."
NO BLOG - Leia o diário do festival
folha.com.br/ilustradanocinema
Texto Anterior: Antonio Cicero: Os perigos da espontaneidade Próximo Texto: Scorsese anuncia parceria Índice
|