São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Crítica/indies

Lançamentos fazem panorama do novo cenário independente

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há espaço para o amor ou lamentos ou divagações abstratas. Nas letras de bandas como The Rakes e Hard-Fi, o que interessa é a vida como ela é.
"Capture/Release", do Rakes, e "Stars of CCTV", do Hard-Fi, estão na ponta de um pacote recheado de bons lançamentos que chegou/está chegando às lojas brasileiras.
"Tem uma garota no trabalho/ ela é bonita/ O cara de vendas gosta dela também/ O que eu posso fazer?/ Ele ganha 28/ Enquanto eu apenas 22", dizem os quatro garotos britânicos que formam o Rakes em "22 Grand Job", canção rápida, quase Clash -ou um Libertines menos tosco.
Em "Work Work Work (Pub, Club, Sleep)", eles nos contam a sensação de vestir por dois dias seguidos uma camisa suja de molho e cheirando a cigarro.
Há bandas que encontram um tipo de som e morrem abraçadas a ele. Outras buscam mais variedade. Em "All Too Human", o Rakes é pós-punk de batida dance; em "Retreat", vira pós-punk de batida rock. São duas canções ótimas e parecem feitas por duas bandas diferentes.
Eles também são garotos, também vêm do Reino Unido e também têm menos dinheiro do que gostariam. "Estou trabalhando a semana inteira, estou cansado/ (...) Estou vivendo para o fim de semana/ (...) Às seis horas vou dar o fora daqui", canta o quarteto Hard-Fi em "Living for the Weekend". Em "Cash Machine" o problema é maior, pois o caixa automático diz que eles não têm dinheiro.
Hard-Fi é ska, new wave, rock de garagem... E tudo isso, mais "Hard to Beat", faz deles uma das melhores bandas britânicas dos últimos anos.

Raconteurs
O Raconteurs não é uma banda. Raconteurs é "a banda de Jack White", guitarrista que ficou famoso há uns cinco anos tocando junto com sua "irmã" baterista no White Stripes.
Aqui, no projeto montado com o amigo Brendan Benson e outros dois músicos, White está menos blueseiro do que no WS. O primeiro single, a grudenta "Steady as She Goes", tem a estrutura Nirvana/Pixies de melodia, com momentos calmos intercalados a outros mais pesados. "Hands" é a outra pop de "Broken Boy Soldiers". O resto do disco é bem irregular e puxa bastante para o rock clássico. Há várias canções marcadas por riffs fortes de guitarra e outras mais lentas, como "Call It a Day", com um agudo sabor psicodélico.

Talking Heads?
Há pouco mais de um ano, os nova-iorquinos Clap Your Hands Say Yeah lançaram um disco caseiro e, com uma mão da internet e outra do boca a boca, se infiltraram no circuito indie dos EUA. Não demorou para assinarem com uma gravadora -o que demorou foi para a Warner lançar o CD aqui.
O Talking Heads é normalmente citado quando se fala de CYHSY, muito por culpa da voz de Alec Ounsworth, que lembra a de David Byrne.
Se os vocais remetem a Talking Heads, a música traz à mente um rock mais novo, como Arcade Fire ("Heavy Metal"). "Is This Love?", de melodia alegre, poderia ter entrado no último do Belle & Sebastian.
Death Cab for Cutie é grupo já conhecido no circuito indie norte-americano e, em "Plans", eles dão seqüência às canções de melodias delicadas e líricas.
Não tão roqueiro, mas bem recomendado, é o DVD "Demon Days Live", da banda-cartum Gorillaz. No show, tocaram seu segundo disco por inteiro, em cinco noites seguidas, na Manchester Opera House.
Os convidados que participaram de "Demon Days" estão presentes, como Shaun Ryder (Happy Mondays), Neneh Cherry e Ike Turner.


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