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Crítica
"A Queda!" filma um Hitler já impalpável
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Quanto mais corre o tempo,
mais impalpável fica o nazismo,
e Hitler também. Os horrores
praticados tornam-se, aos poucos, objeto de representação cinematográfica. O próprio Holocausto tende ao superespetáculo, se nas mãos de Spielberg,
isto é: um mito, como "Os Dez
Mandamentos" vistos por Cecil
B. DeMille ou "Gladiador" visto
por não importa quem.
Hitler, por sua vez, transforma-se em um ponto-de-venda.
Sem ter outra maneira de concorrer com os "blockbusters",
os alemães recorrem a seu próprio demônio.
Em "A Queda! As Últimas
Horas de Hitler" (Telecine
Premium, 1h35), dirigido por
Oliver Hirschbiegel em 2004, o
führer é isso: um delirante que
já não oferece perigo a ninguém, exceto a seus próximos,
que sonha com grandes reviravoltas para uma guerra perdida. Não sabemos mais se suas
idéias eram idiotas de nascença
ou se o filme as fez assim.
Hitler se torna impalpável.
Hoje, é um fantasma atrás de
Bruno Ganz, o ator. Amanhã,
não sabemos.
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