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Sob a mira do Ministério Público, MIS fica acéfalo
Após demissão da diretora Graça Seligman, diretoria da Associação Amigos do MIS planeja entregar cargos, na terça
Para designar nova gestão, Secretaria da Cultura depende de acordo com Ministério Público, que acena com acusação de omissão
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O MIS (Museu da Imagem e
do Som) está, desde anteontem, acéfalo e com destino indefinido. A fotógrafa Graça Seligman, que dirigia o MIS desde
2005, demitiu-se na última
quinta. Seligman discorda da
disposição da Secretaria de Estado da Cultura de firmar um
"Termo de Ajuste de Conduta"
com o Ministério Público, que
aponta a existência de práticas
ilegais na administração do
museu. Ela nega as distorções.
A Folha apurou que a equipe
do secretário João Sayad pediu
a Seligman que deixasse o cargo, com a opção de se transferir
para outra instituição. Questionada a respeito, Seligman disse: "Não estou atrás de emprego. Eu estava desenvolvendo
um projeto. Se não puder desenvolver o projeto, eu saio".
A diretoria da Associação
Amigos do MIS (aaMIS), organização não-governamental
que gere o museu desde abril
de 2006, por contrato com a
Secretaria de Estado da Cultura, também deverá entregar os
cargos, na próxima terça, quando se reúne, para avaliar o pedido de demissão de Seligman.
"Provavelmente o que vai
acontecer é que a gente também saia. Vamos entregar o
museu para a secretaria. Acho
que ficamos mais um pequeno
tempo, para esperar a escolha
da nova organização social [que
substituirá a aaMIS na gestão
do MIS]", afirma Ricardo Ohtake, presidente do conselho
administrativo da aaMIS.
A substituição da aaMIS foi
condição imposta pelo promotor de Justiça da Cidadania Sílvio Marques para que haja
acordo entre o Ministério Público e a Secretaria de Justiça.
Embora a Secretaria da Cultura deseje o acordo, há um impasse em torno dele. Marques
faz questão de que a nova organização social para dirigir o
MIS seja contratada por licitação. A Procuradoria Geral do
Estado, que avaliou a proposta
de acordo, refuta esse método.
"A resposta que recebi é que
a procuradora não concordou
com os termos do acordo, porque eles não querem saber de
licitações. Diante da inconstitucionalidade da lei que permitia contratações sem licitação,
não vou aceitar nenhum outro
tipo de acordo", diz Marques.
O promotor afirma que o
afastamento da aaMIS é "a única solução cabível, diante das
várias irregularidades e crimes
comprovados, como a compra
de notas frias, a utilização indevida do espaço e a perseguição
de funcionários públicos".
Inverdade
Seligman diz que as afirmações do promotor são "uma
grande inverdade". Ela assegura que "no MIS não existe nenhuma nota fria" e diz que isso
já foi comprovado por auditoria. Seligman nega também a
perseguição a funcionário público. Diz que a acusação partiu
de uma funcionária com "histórico de comportamento denuncista e que é alvo de um processo administrativo". "Essa moça
já denunciou até a eleição do
novo papa", afirma.
Sobre a "utilização indevida
do espaço", Seligman afirma
que o aluguel do MIS para
eventos privados era prática
permitida pelo Estado, para obter "recursos para o pagamento
de itens indispensáveis ao funcionamento de uma entidade
cultural, já que não havia verba
do Estado para iluminação,
preservação do acervo, impressão de catálogos etc".
Seligman diz achar que "o governo Serra está meio perdido"
em relação à questão e que a Secretaria de Cultura age com
"pouca transparência".
"Acho que não têm onde colocar o MIS. O que estão querendo mesmo é assinar esse
Termo de Ajuste de Conduta,
para o qual têm que romper o
contrato com a aaMIS e com o
qual transferem a responsabilidade dos erros de mais de uma
década do Estado para o MIS."
Em entrevista à Folha, na
quinta à noite, o secretário-adjunto da Cultura, Ronaldo
Bianchi, afirmou: "Estamos
trabalhando no sentido de melhorar o MIS e não estamos
perdidos. Ninguém está jogando no MIS a culpa de nada. A
secretaria não acredita em culpa, acredita na inocência dos
dirigentes do MIS".
Com a negativa da Procuradoria Geral do Estado à licitação para contratar nova organização social para a gestão do
MIS, o promotor Silvio Marques diz que colocou a secretaria "sob investigação, por omissão". O secretário-adjunto
Bianchi afirma: "Se está sendo
investigada, eu desconheço.
Não prestei nenhum depoimento nem fui chamado para
fazer qualquer declaração ao
Ministério Público. Eu me
apresentei espontaneamente
para resolver um problema".
A Folha apurou que Sayad
pretende transferir a administração do MIS para o Paço das
Artes. Bianchi nega o plano.
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