São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011 |
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CRÍTICA DRAMA "Otro" tenciona as fronteiras da representação no teatro LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA Para além do teatro e da dança, narrativas do real. "Otro", criação do Coletivo Improviso, sob a direção de Enrique Diaz e Cristina Moura, tenciona fronteiras entre territórios estáveis da dimensão espetacular para encontrar novos limites. Abdica-se de uma dramaturgia prévia e colhe-se na realidade bruta -pelos olhares de nove atuantes que sobre ela se debruçam- um roteiro de ações. O espetáculo é exemplar da teatralidade atual, pois se constrói com materiais que o processo de criação ofereceu -achados nas salas de ensaio ou nas ruas- e desafia o espectador a assumir-se como autor da narração. Tudo começa com um exercício simples de imaginação, que demarca espaços privados e públicos e o trânsito neles de agentes despidos de máscaras. Cada ator é ele mesmo agindo e nunca um personagem. O que é mostrado transcende a pessoa de cada um deles e se articula como um arranjo de pulsões figuradas. Da miríade difusa de fluxos criativos, dançados, falados ou insinuados em projeções fílmicas, constitui-se um mosaico de células. A armá-lo há as mãos invisíveis dos encenadores, sempre sutis na maneira como combinam, na intensa superposição de gestos e atitudes, uma sequência de eventos que progride em chave poética. As vozes líricas, enunciadas em vários pequenos monólogos, assumem um teor quase literário. Ao desenvolver sua partitura autônoma e nela se narrar, cada performer se faz autor de seu próprio texto. Em alguns casos isso se torna um problema, já que a boa literatura não depende só da vontade, nem se mede pela sinceridade. Por outro lado, é notável o domínio da escritura cênica, que alcança, em momentos sincrônicos das recorrentes dispersões de um eixo comum, raros efeitos espetaculares. Os diretores parecem saber que a ausência de ficção definida não os impede de articular emoções. "Otro" é a culminância de um processo de radicalização a que seu artífice mor, Enrique Diaz, se lançou há alguns anos. Mais do que encenar textos, cabia friccioná-los com a realidade. Desta vez, quando a matéria-prima utilizada reduziu-se ao real em bruto, evidenciou-se a dificuldade de prosseguir adiante. OTRO QUANDO Sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 26/6 ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93; tel.0/xx/11/ 3871-7700) QUANTO R$ 32 CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Palestra: Companhia do Latão promove ciclo sobre teatro político Próximo Texto: OSB prepara estreia com 21 novos músicos Índice | Comunicar Erros |
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