São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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"O Homem que Odiava as Mulheres"

Inventividade de Fleischer surge com força em policial

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

No momento em que uma retrospectiva na Cinemateca Francesa está levando a uma reavaliação da obra de Richard Fleischer, o lançamento, no Brasil, de "O Homem que Odiava as Mulheres" certamente nos ajudará a melhor situar o cineasta, morto em março deste ano.
O filme gira em torno de um assassino de mulheres que desconcerta a polícia de Boston -até é criado um "birô do estrangulador". Mas as mulheres continuam a morrer. Quem são elas? Aí está o problema: não há uma característica principal.
O roteiro de Edward Anhalt segue as pegadas do clássico "M, o Vampiro de Dusseldorf", de Fritz Lang. Inicialmente, os crimes (os primeiros). Depois, a ação da polícia, tentando descobrir, em cada tarado, o responsável. O mistério engrossa. Aí tomamos contato -nós, a polícia só bem depois- com o estrangulador, Tony Curtis.
A mise-en-scène de Fleischer se faz marcar pelo perfeito controle da narrativa e, sobretudo, pelo uso originalíssimo da técnica do "split-screen", que divide a tela em pelo menos duas ações simultâneas.
Como o filme é rodado em tela larga, a simultaneidade das ações cria momentos interessantes. Mas o melhor é o uso da dupla dimensão, isto é: vemos ao mesmo tempo uma imagem aberta e outra fechada do mesmo acontecimento: um plano geral e um primeiro plano.
Quase sempre o primeiro plano é lançado, primeiro, sobre um objeto sem interesse (digamos, uma cadeira). Em seguida, o personagem senta-se nessa cadeira, e o que era desinteressante ganha vida.
O procedimento tem duas conseqüências. Uma, da ordem da linguagem. É como se Fleischer abrisse a linguagem diante de nós e a expusesse. Um pouco como se o filme fosse uma mesa de operação lingüística. Outra, de ordem narrativa, pois com isso a tensão e o mistério que cercam os personagens e sua evolução no filme transferem-se para a tela e nos atingem diretamente -não mais como história, mas como imagem.
É preciso admitir que esse procedimento -a divisão de telas- torna um tanto áspera a visão do filme numa TV comum, pois além da tela larga (com a qual se perdem as faixas acima e abaixo do quadro de TV) a divisão da tela diminui aquilo que vemos. Mas esse problema não diminui as virtudes deste filme belíssimo -antes pelo contrário, é prova de suas virtudes.


O HOMEM QUE ODIAVA AS MULHERES
    
Distribuição:
Fox
Quanto: R$ 29,90, em média



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