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"O Homem que Odiava as Mulheres"
Inventividade de Fleischer surge com força em policial
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
No momento em que
uma retrospectiva na
Cinemateca Francesa
está levando a uma reavaliação
da obra de Richard Fleischer, o
lançamento, no Brasil, de "O
Homem que Odiava as Mulheres" certamente nos ajudará a
melhor situar o cineasta, morto
em março deste ano.
O filme gira em torno de um
assassino de mulheres que desconcerta a polícia de Boston
-até é criado um "birô do estrangulador". Mas as mulheres
continuam a morrer. Quem são
elas? Aí está o problema: não há
uma característica principal.
O roteiro de Edward Anhalt
segue as pegadas do clássico
"M, o Vampiro de Dusseldorf",
de Fritz Lang. Inicialmente, os
crimes (os primeiros). Depois,
a ação da polícia, tentando descobrir, em cada tarado, o responsável. O mistério engrossa.
Aí tomamos contato -nós, a
polícia só bem depois- com o
estrangulador, Tony Curtis.
A mise-en-scène de Fleischer se faz marcar pelo perfeito
controle da narrativa e, sobretudo, pelo uso originalíssimo
da técnica do "split-screen",
que divide a tela em pelo menos
duas ações simultâneas.
Como o filme é rodado em tela larga, a simultaneidade das
ações cria momentos interessantes. Mas o melhor é o uso da
dupla dimensão, isto é: vemos
ao mesmo tempo uma imagem
aberta e outra fechada do mesmo acontecimento: um plano
geral e um primeiro plano.
Quase sempre o primeiro
plano é lançado, primeiro, sobre um objeto sem interesse
(digamos, uma cadeira). Em seguida, o personagem senta-se
nessa cadeira, e o que era desinteressante ganha vida.
O procedimento tem duas
conseqüências. Uma, da ordem
da linguagem. É como se Fleischer abrisse a linguagem diante
de nós e a expusesse. Um pouco
como se o filme fosse uma mesa
de operação lingüística. Outra,
de ordem narrativa, pois com
isso a tensão e o mistério que
cercam os personagens e sua
evolução no filme transferem-se para a tela e nos atingem diretamente -não mais como
história, mas como imagem.
É preciso admitir que esse
procedimento -a divisão de telas- torna um tanto áspera a
visão do filme numa TV comum, pois além da tela larga
(com a qual se perdem as faixas
acima e abaixo do quadro de
TV) a divisão da tela diminui
aquilo que vemos. Mas esse
problema não diminui as virtudes deste filme belíssimo -antes pelo contrário, é prova de
suas virtudes.
O HOMEM QUE ODIAVA AS
MULHERES
Distribuição: Fox
Quanto: R$ 29,90, em média
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