São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004 |
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Londres em chamas
Entre brigas, idas e vindas, Libertines lança festejado 2º disco com seu futuro em dúvida
LÚCIO RIBEIRO COLUNISTA DA FOLHA Até o fechamento desta edição, no sábado, o Libertines existia ainda como banda e tinha o rock a seus pés. Com um empolgante disco novo pronto para atingir as lojas do planeta a partir do dia 30, o grupo inglês talvez até irá aparecer mesmo no show marcado amanhã em Nova York e quinta em Los Angeles, para mostrar ao vivo quem está sendo considerado o responsável pela ressurreição do rock inglês. Talvez ainda o Libertines compareça, sim, para chacoalhar o colossal Reading Festival com uma esperada apresentação no palco principal, daqui a menos de duas semanas. E, quem sabe, dê as caras aqui no Brasil no final do ano, como sonha a gravadora Trama. Mas, como foi para o punk em 77 e como é hoje para o Libertines, o futuro é agora. E todas as ressalvas acima são justificáveis. A mais inconstante, explosiva e perigosa banda nova a sacudir a música jovem britânica, o Libertines encanta com seu vigoroso indie-rock de levada punk, seu jeito de Clash, Sex Pistols e Oasis tudo junto. Não à toa, a banda cai nas mãos produtoras de Mick Jones, ex-guitarrista do lendário Clash. Mas, se todos esses componentes têm elevado a banda aos céus, o imponderável da relação de amor e ódio entre seus dois guitarristas, Carl Barat e Pete Doherty, pode levar o grupo à destruição em um instante. A intempestiva relação dos dois amigos de infância, excelentes guitarristas e poetas urbanos do turbulento cotidiano jovem inglês, pauta a maioria das letras de "The Libertines", o segundo CD da banda, o tal que vai atingir as lojas da Inglaterra no próximo dia 30, nos EUA no dia seguinte e no Brasil no começo de setembro. Desde que saiu o CD de estréia, "Up the Bracket" (2002), foi batizada de melhor banda nova britânica, virou assunto em todo lugar, principalmente nos tablóides. O êxito financiou a autodestruição de Doherty, viciado confesso em heroína. Saiu da banda, entrou na banda, a banda acabou, a banda voltou. Doherty foi expulso, sumiu, foi preso, brigou e quis fundar outra banda, chamada... Libertines. Barat fez e faz o que pode para segurar a onda do amigo. Enrolado com a polícia (veja as encrencas ao lado), com as drogas e com seus amigos, ele chegou a gravar o CD "The Libertines", mas agora só volta a tocar em shows quando estiver completamente limpo, segundo Carl Barat. O álbum novo é um fenômeno muito antes de ser lançado. Ele é a quebra definitiva do lançamento real e virtual de que tanto teme a indústria do disco, mas que pode até beneficiá-la "The Libertines", o CD, vazou para a internet em junho. Desde então, expressamente distribuído, fez a banda ganhar capas e capas de revistas, artigos gigantes em jornais sisudos, alta execução em rádio e uma minitour americana marcada às pressas. Banda e fãs já vivem intensamente o álbum sem ele ter sido lançado. O Libertines, com sua juvenília punk típica dos anos 00, pós-revolução digital, é a ponta visível de um levante de moleques que empunham guitarras e picapes para falar de suas frustrações sociais, de seu estilo de vida no limite e de idas-e-vindas sentimentais. The Streets e Dizzee Rascal estão mudando o hip hop e chegando ao topo das paradas. Audio Bullys está devolvendo graça à música eletrônica. E o Libertines está no comando da "guerrilha" roqueira que está pondo Londres em ebulição, pronta para estourar. A cidade vê pipocar em seu subúrbio, e graças ao grito de independência libertino, os charmosos "guerrillas shows", apresentações de bandas pequenas dentro de pubs, clubinhos gays, metrôs e lojinhas. Tudo muito bem divulgado entre amigos e pela internet. Londres e o mundo (via internet) estão ardendo. Corra para os Libertines, antes que acabe. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: "Fui salva por um Libertine no meio da noite de Liverpool" Índice |
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