JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Minha primeira visita ao italiano Vino! me deixou boquiaberto.
Filial de casas do Paraná que conjugam cantina com loja de vinhos, em São Paulo ela tem como sócios dois chefs pesos pesados, do estrelado Pomodori, que fica a poucos metros.
Eles, Rodrigo Martins e Jefferson Rueda, são responsáveis pela cozinha e podem ser vistos transitando entre as duas casas.
O Pomodori tem fama de ser esnobe (entre outras coisas, não serve água mineral brasileira, defeito que legou à nova casa), mas sua cozinha está, sem dúvida, entre as melhores da cidade.
Imagine então essas feras fazendo uma comida simples, de cantina, como poderia ser impecável... Não foi o que vi. Na primeira vez, o jantar foi uma decepção estrondosa. A rabada (que dois meses antes eu provara no Pomodori, em outra receita, mas primorosa) era rígida, precisando obviamente de muito mais cozimento, e seu molho, bem apurado, era salgado. Risoto de gorgonzola? Duro. Bife à milanesa? Brilhava de tanta gordura. Mesmo com um acerto (uma boa massa: ravióli de robalo ao molho de manjericão e vôngole), desenhava-se uma bola preta na avaliação.
A segunda visita desanuviou parte da péssima impressão. As massas mais uma vez foram o forte -fettuccine com ragu de rabada e agrião, em que a carne estava ok, além do molho estimulante. No caso do ossobuco de vitela, permitiram que a carne amaciasse e liberasse lentamente seus sucos. No geral, foi uma refeição mais adequada (embora o risoto de açafrão, mais uma vez, estivesse com os grãos rígidos), livrando o restaurante de uma avaliação totalmente negativa.
A empreitada da Vino! (onde também são sócios Marina Thompson, do Pomodori, e Raphael Zanette, das lojas Vino!) é respeitável: uma cantina chique, que não é barata (tampouco cara), com pratos familiares aos paulistanos ao lado de variações mais raras (polenta mole cremosa com ovo caipira frito e caldo de carne).
Além disso, oferece ótimos vinhos a preço de varejo (são escolhidos direto na prateleira); e no almoço, um rodízio de massas (com algumas carnes) a bom preço. Uma fórmula interessante, ameaçada pela desigualdade de desempenhos e erros infantis da cozinha.