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Corpo santo
Restauradores em São Luiz do Paraitinga tentam pôr em ordem os cacos e fragmentos das imagens sacras destruídas na enchente que arrasou a cidade histórica de SP no início deste ano
SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO
LUIZ DO PARAITINGA (SP)
Nossa Senhora das Dores
perdeu o rosto e alguns dedos. Santo Antônio tem remendos na orelha e na sobrancelha. Falta metade do
nariz de são Brás e seu olho
de vidro descolou. Da Nossa
Senhora das Mercês, santa
de barro, sobrou só o rosto,
intacto, e parte do manto.
"Tinha pedaços que a gente estava procurando como
se fossem ouro, um dedo,
uma orelha de santo, tudo foi
garimpado", lembra o restaurador Wagner Matias. "Isso tudo virou lama, entulho."
Oito meses depois do dilúvio que arrasou São Luiz do
Paraitinga (a 182 km da capital), derrubando a igreja de
São Luiz de Tolosa e a capela
das Mercês, marcos da cidade histórica em São Paulo,
restauradores tentam reconstruir o quebra-cabeça de
suas imagens sacras.
Numa casinha perto do
maior foco da destruição,
uma equipe montou uma espécie de hospital dos santos.
Nas macas espalhadas por
três salas, estão as sete imagens de madeira que estavam na igreja matriz, entre
elas um Cristo morto e outro
crucificado, além da recém-chegada santa de barro.
Desde que tudo veio abaixo, a imagem mais emblemática da destruição ficou guardada numa caixa de papelão
na casa de um dentista na cidade. Só há duas semanas é
que o rosto de Nossa Senhora
das Mercês e seu tronco desmembrado tiveram a primeira sessão de tratamento.
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