São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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ANÁLISE

Autor atualiza idéias

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

"A Arte de Viver para as Novas Gerações" (67) é um dos mais belos panfletos políticos do século 20. "A Era dos Criadores", novo livro de Raoul Vaneigem, é um programa antropológico-poético, de tom confessional, em que defende a criação e a arte de viver contra o "totalitarismo financeiro e tecnológico".
"A criatividade é a melhor coisa partilhada no mundo e a mais universalmente sacrificada. Ela é um ato de gratuidade numa sociedade onde tudo se compra, se vende, se paga, se troca", diz.
Sua hipótese, próxima da de Oswald de Andrade, é que nas origens da sociedade atual e de seu rancor pela vida criadora está o fim do matriarcado e uma revolução agrária que substituiu a "era da abundância" por um "sistema imperativo de rarefação (da produção) e de lucro".
Nessa sociedade, a pulsão criadora se transformou em "parte maldita do trabalho". Ele não está falando em capacidade de criar objetos mercantis, mas da alegria de criar a si mesmo e à vida.
"A tecnologia se tornou uma teologia da criação", adverte. O "totalitarismo tecnológico", para ele, "condena o indivíduo a morrer para si mesmo a fim de renascer num além percebido como o espelho de uma existência puramente espetacular".
"A Era dos Criadores" atualiza as idéias de Vaneigem aos tempos atuais. Ele recusa fortemente que essas idéias sejam utópicas. "A poesia será a ciência do futuro", observa, com sua escrita apaixonada, que tenta entender por que nós detestamos tanto a vida.


L'ÉRE DES CRÉATEURS. De: Raoul Vaneigem. Editora: Editions Complexe. Preço: 14,90 euros (cerca de R$ 44; 120 págs.). Onde encomendar: www.amazon.fr


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