|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Artistas passam duas semanas em aldeia, no Mato Grosso, para montar peça que será apresentada em oca no Sesc
Diretor francês prepara espetáculo com xavantes
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Vestindo informalmente um
macacão cáqui, sobre camiseta
branca, o bem-humorado encenador francês Jean Lambert-Wild
destoa do cenário administrativo
de um prédio na avenida Paulista
e parece preparado para a aventura à qual se propõe.
Desde ontem, ele e alguns artistas da sua trupe, a Cooperativa
326, estão na aldeia Etêñiritipa,
dos índios xavante de Pimentel
Barbosa, no Mato Grosso.
A equipe vai passar ali duas semanas, período em que ganhará
formato o espetáculo "In My
Dream, I Start Walking" ("Em
Meu Sonho, Começo a Andar"),
que tem pré-estréias programadas para 1º a 3 de outubro na oca
instalada provisoriamente no
Sesc Belenzinho, em São Paulo.
Trata-se de um braço do projeto
"Metamorfoses", que será mostrado em 2005 no Festival de Teatro de Avignon, dentro do Ano do
Brasil na França.
No centro da aldeia
Lambert-Wild encontrou os xavante pela primeira vez em 2002.
Relatou seu sonho de trabalhar
com eles. Foi aprovado pelo "wara", palavra que designa ao mesmo tempo o centro da aldeia e o
conselho no qual os índios tomam decisões.
"Pode parecer idiota, mas há
cerca de três anos sonhei que trabalharia num lugar do Brasil, cuja
geografia desconheço. Cheguei à
verdade simples, à inteligência
"naif" dos xavante, que se tratam
entre si como "homens da verdade". Eles me aceitaram e vamos
sonhar juntos", diz Lambert-Wild, 32.
O discurso é subjetivo. "Os franceses são objetivos?", devolve.
"Talvez por isso eles aparentam
tanta tristeza", acrescenta.
E insiste. "Ainda se pode compartilhar um sonho na era dos sonhos de consumo?", coloca o encenador que voltou da primeira
visita à aldeia xavante considerando que aqueles índios são
"guerreiros da poesia, por penetrarem o cosmos que não conseguimos".
Reconhece que a melhor palavra para definir o projeto é "utopia", o que condiz com a investigação artística da parisiense Cooperativa 326, voltada para as artes
cênicas, visuais e musicais, da
qual é diretor-artístico desde
1998.
Lembert-Wild nasceu na ilha
Reunião, departamento ultramarino francês, e sente-se um "exilado na metrópole".
Para conceber o que pretende
uma instalação sonora, "um wara
sonoro e poético", o espetáculo
inclui quatro integrantes da companhia, entre eles o músico e
compositor Jean-Luc Therminarias.
Atuação indígena
Haverá participação de cinco
xavantes (uma das primeiras
apresentações de rituais fora da
aldeia aconteceu nos anos 90,
quando um grupo viajou até São
Paulo para um evento ao ar livre
no Sesc Ipiranga).
Lambert-Wild, sua equipe e os
índios chegam ao Sesc Belenzinho
no próximo dia 27. Devem trazer
um roteiro comum. Juntam-se a
eles, então, a atriz Simone Spoladore e o ator francês Stéphane Pellicia.
IN MY DREAM, I START WALKING -Direção geral: Jean Lambert-Wild. Com:
índios da aldeia Etêñiritipa em Pimentel
Barbosa (Paulo Francisco Supretaprá,
Josias Babati Xavante, Haroldo Waia Zasé
Xavante, Tsahu Tuwe Xavante e Waatô
Xavante). Quando: pré-estréias nos dias
1, 2 e 3/10, sex., sáb. e dom., às 21h.
Onde: Sesc Belenzinho - oca (av. Álvaro
Ramos, 991, Belenzinho, SP, tel. 0/xx/11/
6602-3700). Quanto: R$ 15.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Serviço de quarto Índice
|