São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 2005

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MÚSICA

Acompanhada por assessora, divulgador, empresário, diretor de marketing e gravador, cantora fala sobre seu novo álbum, "Segundo"

Maria Rita dá continuidade ao CD anterior

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Maria Rita em suíte do hotel Emiliano, em São Paulo; após o sucesso de seu primeiro álbum, cantora lança agora "Segundo"


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quarta-feira, cinco horas da tarde. Maria Rita se prepara para dar uma série de entrevistas sobre seu novo disco em uma suíte do hotel Emiliano, em São Paulo. Quando recebe a Folha, primeira entrevista do dia, já está maquiada e produzida, mas cansada.
Ao seu lado, acompanhando a entrevista, uma assessora, um divulgador, seu empresário e o diretor de marketing de sua gravadora, entre outras pessoas, além de um indefectível gravador registrando tudo.
O forte esquema traz à mente a auto-ironia da faixa "Recado", de Rodrigo Maranhão, recém-gravada por ela no álbum "Segundo": "Com muito dinheiro e carro do ano/ modelo importado, tu tá comentado / não tem mais sossego e da roda de samba já se separou / vive cercado, parece um ET / E sai todo dia em revista e TV / pra quê tanta banca na terra da santa? / Tem muita riqueza que você não tem mais não."
Protegida e garantida, em uma suíte de R$ 1.500 a diária, tomando café servido e já mexido com a colher por um assessor, ela responde às perguntas com certa desconfiança, parecendo querer se mostrar forte e decidida quando fala sobre a expectativa das pessoas sobre si ou sobre a possibilidade de seguir fórmulas e ter feito, em vez de um segundo disco, a continuação do primeiro.
 

Folha - Qual a diferença entre os dois discos? Qual foi a diferença entre fazê-los?
Maria Rita -
A diferença é na ansiedade, talvez. Antes havia expectativa, cobrança. Mais pelo lado de fora do que para mim. Do lado de fora havia pressão, a gente sentia a expectativa. Esse foi uma coisa menos ansiosa, do lado de fora para cá.

Folha - Na produção também?
Maria Rita -
Não, acho que não. Acho que os dilemas existem independente de que disco é, independente da pressão exterior ou interior. Eu tinha os meus dilemas. Uma preocupação com o estético da coisa. "Faço regravação ou não? Ah, será que vai parecer fórmula, será que não vai parecer fórmula?" Ficava muito na cabeça. A partir do momento em que eu deixei passar ficou muito mais natural. Que é só o que eu sei fazer, também. Quando eu penso muito não funciona. O intuitivo para mim sempre fala mais alto e sempre vence.

Folha - No segundo disco as pessoas vão te ouvir mais pela música, já mataram aquela primeira curiosidade?
Maria Rita -
Acho que sim. Porque tinha uma bolha à minha volta, né? No primeiro já se dissipou muito da curiosidade logo no início. As comparações, as substituições, a possibilidade de substituição, as diferenças dos indivíduos -eu, minha mãe, meu pai, meus irmãos- e acho que ficou tudo no lugar.

Folha - Comparando a produção dos dois discos, não parece haver uma diferença muito grande. Tem a mesma formação, foi gravado ao vivo...
Maria Rita -
Mas é bem diferente, né? Eu sou muito envolvida no projeto de produção, então não dá para falar da produção do Tom Capone ou da produção do Lenine.
Nesse disco eu assino a produção também, o outro eu assinava a co-produção. Co-produtor tem uma responsabilidade um pouco menos intensa. Mas eu me envolvi muito em ambos processos. Ainda assim, a formação da base é a mesma, mas no primeiro disco tinha percussão, tinha violão, algumas outras sonoridades.

Folha - No caso do primeiro disco, uma das grandes questões era de como seria o segundo disco, como com qualquer artista que lança um disco de estréia e faz sucesso. E, basicamente, foi uma continuação. Arranjos parecidos, uma canção em espanhol, regravações, podemos tomar isso como uma reta?
Maria Rita -
Não, não, não, não, não, não. Não tem fórmula nenhuma. Antes de entrar em estúdio, eu tive esse momento introspectivo comigo mesma de "como é que eu vou fazer?", e isso estava totalmente na cabeça. "Ai, se chegar uma música em espanhol, por que eu não vou gravar, por que eu tenho que me podar, porque estava no outro disco, e o outro disco fez sucesso? E esse não vou poder?" Aí eu resolvi que tem que bater na emoção. Porque sempre tudo na minha vida foi nisso. Foi a minha verdade, foi no meu tempo. Não vou começar agora a desviar disso por medo que alguém vá dizer que eu fiz uma fórmula. Não existe fórmula. O primeiro disco teve muito mais regravações do que esse. De certa forma, o segundo é uma continuação do primeiro, mas não é -é outro momento, né? As letras são outras, são outras histórias sendo contadas. Não esperem que eu estacione agora.

Folha - Mas você tem vontade de ampliar esse seu espectro para sonoridades mais variadas?
Maria Rita -
Tenho. Tenho vontade, mas... Eu acho que eu tenho um tempo que é meu, é muito meu. Como cada um tem um tempo de tudo na vida. Nesse momento ainda não me soou verdadeiro. Eu ainda não tive essa necessidade artística de explorar esse lado.


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