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CRÍTICA
Com linguagem televisiva, filme se perde na condução dos atores
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A família é a grande questão
de "Filhas do Vento". Não
aquela que esteve em inúmeros
filmes nacionais como metáfora
política, mas, pelo contrário, a
que trava diálogo com um universo mais restrito, o da sala de jantar, no caso, o da teledramaturgia.
O foco do diretor Joel Zito
Araújo não é, portanto, o de um
Arnaldo Jabor, que em "Tudo
Bem" falava sobre a era Geisel
através de uma família amalucada. A proximidade está mais para
os dramalhões familiares.
Joel Zito Araújo visita as novelas
de Manoel Carlos -que juntam
ficção a campanhas solidárias-
quando recorre ao seu documentário "A Negação do Brasil" para
falar sobre o preconceito racial
neste "Filhas do Vento". O assunto é tratado em meia dúzia de falas
e o que importa no filme é o ajuste
de contas familiar.
Não obstante, é com uma linguagem televisiva, naquilo que ela
tem de menos cinematográfica,
ou seja, apostando nos closes e
num estilo de atuação que acredita mais na fala do que no corpo,
que Araújo falará sobre as diferenças entre duas irmãs e seu pai,
Zé das Bicicletas (Milton Gonçalves). Ele, extremamente conservador, carinhoso com a caçula Ju,
mais afinada com a vidinha pacata na pequena Lavras Novas, Minas Gerais, e bem rígido com Cida
(Taís Araujo), cujos olhos progressistas miram a carreira de
atriz na cidade grande. A tradição
e a inovação se digladiando até
sua partida para o Rio de Janeiro.
Décadas se passam e Cida (Ruth
de Souza) agora é uma reconhecida atriz de TV enquanto Ju (Léa
Garcia) permanece no mesmo lar.
O reencontro trará à tona rusgas e
outras questões, cuja resolução
seguirá em cadência igual à de um
último capítulo de novela, mas
sem definir quem está certo ou errado, o que é bem digno nesta
produção.
O filme tenta vôos mais cinematográficos, mas a condução de
Joel Zito Araújo demonstra inabilidade na utilização dos recursos.
Assim, temos logo no início um
registro que parece o do misticismo de "Central do Brasil", de
Walter Salles, mais tarde uma referência explícita à morte de Marlon Brando em "O Poderoso Chefão" e uma quase vinheta mostrando a cidadezinha ao fundo em
luar acelerado e musicado.
Nesse Frankenstein de estilos,
nascem duas questões. A primeira é que Araújo conseguiu o impossível: com exceção de Ruth de
Souza, a direção de atores é catastrófica, algo grave para um produto televisivo. E, como cinema,
na falta de imagens mais sofisticadas, "Filhas do Vento" está longe
da família de um, por assim dizer,
Leon Hirszman, de "Eles Não
Usam Black-Tie".
Filhas do Vento
Direção: Joel Zito Araújo
Produção: Brasil, 2004
Com: Ruth de Souza, Milton Gonçalves,
Léa Garcia, Taís Araujo
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Lumière e circuito
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