CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO (MG)

A pequena cidade mineira de Ouro Preto viveu quatro dias de metrópole cosmopolita. Encerrada no domingo, com uma homenagem ao cantor e compositor Milton Nascimento, a sétima edição do festival Tudo É Jazz provou que esse gênero musical é hoje cultivado com diferentes sotaques e em diversos cantos do planeta.
Milhares de pessoas encheram a praça Tiradentes, anteontem, para assistir ao reencontro de Milton com os jazzistas norte-americanos Wayne Shorter e Ron Carter, com os quais não tocava havia 15 anos.
"Foi este homem que me ajudou a levar a música de Minas Gerais ao mundo", disse Milton ao introduzir Shorter. Voltando à época em que os dois se tornaram parceiros, Milton recordou temas instrumentais, como "Ana Maria" e "Lilia", que os dois gravaram no álbum "Native Dancer" (1975).
Focada no jazz europeu, a primeira noite do festival não poderia ter sido mais exemplar.
Em quatro shows, só foram ouvidas duas citações de canções norte-americanas, prova de que os clássicos standards de Cole Porter e outros mestres estão perdendo a hegemonia.
Nesta noite, brilhou o trio do sérvio Bojan Z. Entre suas composições, uma das mais inventivas é inspirada em personagem do grupo inglês Monty Python.
A segunda noite do festival também foi marcada pela rejeição do repertório tradicional do jazz, nas apresentações do quarteto Third World Love e do Cohen's Sextet.
Em meio a tantos músicos jovens, chamou atenção a clarinetista e saxofonista israelense Anat Cohen, que demonstrou conhecimento profundo da linguagem do choro e do samba.
No sábado, destacaram-se dois expoentes norte-americanos da chamada geração dos "young lions". Nicholas Payton busca uma síntese entre o hard bop e as sonoridades eletrificadas do jazz dos anos 70. E o quinteto do baixista Christian McBride impressionou pelo jazz moderno e calcado na melhor tradição do hard bop.