São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

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Jordi Savall celebra encontro de culturas em concertos em SP

Hoje e quinta, catalão comanda instrumentistas e cantores do Hespèrion XXI

IRINEU FRANCO PERPETUO
DA REPORTAGEM LOCAL

Virtuose da viola da gamba, o catalão Jordi Savall, 67, traz a São Paulo, na série de assinaturas da Sociedade de Cultura Artística, a música da Península Ibérica e da América no tempo do descobrimento.
Gamba, em italiano, é perna.
O instrumento leva esse nome porque, a exemplo do violoncelo, é preso entre as pernas do executante, enquanto a viola utilizada nas orquestras modernas (chamada no século 18 de "viola da braccio", ou seja, "de braço") fica, assim como o violino, apoiada no ombro.
Surgida no século 15, a viola da gamba floresceu até o final do século 18, quando perdeu a proeminência para os instrumentos da família do violino. O interesse por ela renasceu no século 20, depois da 2ª Guerra Mundial, com o florescimento da escola de interpretação de música antiga com instrumentos de época.

Paraísos Perdidos
Savall foi um autodidata da viola da gamba, na década de 60, e hoje é referência internacional de qualidade no instrumento, que ele ensinou o ator Gérard Depardieu a tocar para as filmagens de "Todas as Manhãs do Mundo" (1991), de Alain Corneau.
Empunhando um instrumento soprano (portanto, menor e mais agudo) da família das violas da gamba, Savall comanda, no Brasil, os 18 instrumentistas e cantores do Hespèrion XXI, grupo com o qual já esteve por aqui.
O maior destaque é sua mulher, Montserrat Figueras, soprano cuja emissão "lisa" pode soar mais semelhante à técnica dos cantores populares do que ao vibrato característico das vozes operísticas.
Com base em material coletado tanto na Espanha quanto do lado de cá do Atlântico, o grupo mostra dois programas diferentes: "A Rota do Novo Mundo" (hoje) e "Paraísos Perdidos" (quinta).
"As tradições que se perderam na música escrita permanecem vivas na tradição oral", diz. "Fomos em busca não apenas das culturas indígenas das Américas, mas também de práticas espanholas, como o flamenco e o Mistério de Elche."
Os concertos celebram um encontro de culturas que esteve longe de ser simétrico ou pacífico. O músico crê que a Espanha deveria se desculpar junto às nações latino-americanas pelos males causados pela colonização. "Assim como os governantes alemães se desculparam com Israel, acho que algum dos nossos deveria dizer: "Olhem, pedimos perdão pelos sofrimentos que causamos às pessoas desse continente enquanto decidíamos se elas tinham alma ou não'".

Bate-papo
Sem os músicos do grupo, Savall tem um bate-papo com o público amanhã, às 20h, no Instituto Cervantes (av. Paulista, 2.439, tel. 0/xx/11/3897-9609). As senhas, gratuitas, serão distribuídas uma hora antes do evento.


JORDI SAVALL
Quando: hoje e qui, às 21h
Onde: teatro Abril (av. Brig. Luís Antônio, 411, tel. 0/xx/11/3258-3344)
Quanto: de R$ 70 a R$ 150 (R$ 10 para estudantes, meia hora antes dos concertos)
Classificação: não recomendado para menores de 12 anos




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