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COMIDA
Antes de florescer
Aberta a temporada de alcachofra, a Folha visitou plantação em Piedade (SP), onde está concentrada 90% da produção nacional
LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO
Nos dias de chuva, os trabalhadores do campo se recolhem. Para não perder o
expediente na roça, aproveitam para preparar, em um
galpão protegido, pequenos
envelopes de jornal.
Quando a chuva cessa, caminham pela plantação de
alcachofras, com luvas grossas e um grampeador em punho. Cobrem uma planta por
vez com o saquinho de papel.
Protegidas do sol, conservam sua coloração roxa até o
momento da colheita. São
colhidas uma a uma, manualmente, com o auxílio de
uma faca para cortar o talo,
antes de florescer.
Na fazenda São Jorge, em
Piedade, no interior de São
Paulo, o ritual se repete diariamente, para cobrir as hortaliças de cerca de 160 mil
pés. É ali nas redondezas que
está concentrada 90% da
produção nacional dessa
planta, nativa do Mediterrâneo, trazida ao Brasil pelos
imigrantes italianos. Mas
ainda é na Itália que se concentra a produção mundial.
Rogerio Fasano demorou
um ano para regularizar a importação das alcachofras
"castradas", que vêm de uma
ilha minúscula nas redondezas de Veneza para integrar o
menu do Fasano -sempre
no primeiro semestre.
Reproduzida pela muda,
como a banana, aqui é alimentada por um sistema de
irrigação que simula uma garoa, de maneira que a água
caia com suavidade na planta, evitando que a terra suba
e entre em seu interior -o
que faz com que apodreça.
Na plantação de George
Osako, que cultiva alcachofras há meio século, é utilizado um hormônio vegetal extraído de um trigo no Japão,
de onde é importado. Injetado no miolo da planta, estimula seu desenvolvimento,
mesmo fora da época.
ANTIGAMENTE
Há registros de que, na Antiguidade, a alcachofra já era
cultivada pelos gregos. No
primeiro livro de culinária de
língua portuguesa, em 1680,
"Arte de Cozinha", de Domingos Rodrigues, também
há menção ao legume.
Maria Montanarini, autora
de "Alcachofra - A Flor e Seus
Aromas" (ed. Senac), dedica-se ao ingrediente desde 1980.
Até hoje, aos 81 anos, ela prepara suas receitas, como o
doce com sabor de marrom-glacê, feito em calda com fava de baunilha.
Sua mãe preparava alcachofras na Itália regularmente. Aqui, para adaptar 134 receitas, ela precisou de "caixas e mais caixas" de alcachofra. "No Brasil elas são
mais fibrosas." Montanarini
diz, aliás, que o mais difícil é
limpar uma alcachofra (leia
arte ao lado).
Sob o comando da extinta
Casa Europa, ela promovia
festivais temáticos e espalhava arranjos das flores roxas
pelo restaurante.
Hoje, menus com a mesma
estrela são recorrentes na cidade. Está em cartaz no Chef
Rouge (tel. 0/xx/11/3081-7539), por exemplo, uma
temporada que traz cinco
pratos de alcachofra, como
as vieiras grelhadas ao molho de vinho branco.
Na pousada Ronco do Bugio (tel. 0/xx/11/8259-7788),
em Piedade, também há um
cardápio completo à base do
mesmo ingrediente.
Para prepará-la em casa,
atenção: compre a planta
fresca, com as folhas ainda
fechadas. Para conservá-las,
guarde-as num saco plástico
e deixe-as na geladeira -duram cerca de uma semana.
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