São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

OPINIÃO PAULO MACHADO DE CARVALHO FILHO

Paulinho criou maior vitrine da MPB na TV

Empresário e ex-diretor da Record, morto anteontem, merece o crédito por levar ao público a revolução musical dos anos 60


PAULINHO ENTENDEU QUE ESTAVA DIANTE DE UMA GERAÇÃO PRIVILEGIADA DE ARTISTAS E QUE O TALENTO PODERIA SER TRANSFORMADO EM SUCESSO, AUDIÊNCIA, DINHEIRO

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Nas eliminatórias do 3º Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em outubro de 1967, Gilberto Gil teve uma crise de pânico horas antes de apresentar "Domingo no Parque" pela primeira vez em público.
A notícia chegou a Paulinho Machado de Carvalho, então diretor da emissora, que saiu correndo até o hotel Danúbio, centro de São Paulo, onde Gil estava hospedado. Com a ajuda de Nana Caymmi, mulher do cantor na época, deu um banho em Gil, vestiu suas meias e ajudou a convencê-lo a cantar. "The show must go on."
A história foi relembrada por Paulinho, com humor e memória irretocáveis, para o documentário "Uma Noite em 67", dirigido por Renato Terra e por mim.
O episódio dá conta da proximidade entre o empresário e os artistas naquele fim da década de 60 -algo inimaginável em tempos de batalhões de assessores como os de hoje.
Com a morte de Paulinho anteontem, aos 86, muitos irão lamentar a perda do grande empresário de comunicação. Mas ele também merece ser lembrado por sua importância para a música popular brasileira.
Na Record dos anos 60, programas musicais como "Fino da Bossa", "Jovem Guarda", "Show em Si... monal" e outros ocupavam os horários mais disputados da programação e artistas eram contratados pela emissora como hoje são os atores de novela. Ali também o produtor Solano Ribeiro implantou a mais rica experiência de festival de canções da história da música brasileira.
Com faro empresarial, Paulinho entendeu que estava diante de uma geração privilegiada de artistas e que o talento à disposição poderia ser transformado em sucesso, audiência, dinheiro.
O que teria acontecido ao festival de 67 se Paulinho não tivesse ajudado a acudir Gil? Difícil responder. E o que teria passado com a música brasileira se aquela geração não tivesse vitrine como o horário nobre da emissora de maior audiência da época?
Aí é possível arriscar uma resposta: a revolução musical aconteceria, mas não atingiria o público de forma tão rápida, ampla e impactante. Esse crédito precisa ser dado a Paulinho.


Texto Anterior: Coleção Folha estreia com obras de Darwin e Maquiavel
Próximo Texto: Contardo Calligaris: O nosso mal-estar amoroso
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.