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Obras de Ícaro e Carlos Millan ainda pulsam
DA REPORTAGEM LOCAL
Os curadores da sala que homenageia Ícaro de Castro Mello lembram das grandes dificuldades
que o arquiteto teve para colocar
acima a estrutura moderna do ginásio do Ibirapuera.
O arquiteto Eduardo de Castro
Mello, um dos curadores, era pequeno quando seu pai o levava à
antiga Invernada dos Bombeiros,
como o bairro era conhecido.
"Para nós, era uma diversão.
Mas já me impressionava com o
grande trabalho de levantar, um a
um, os arcos que sustentam a cobertura do ginásio", conta ele, que
seguiu a profissão do pai e, como
ele, se especializou em estruturas
esportivas.
"Foi um empreendimento heróico. No projeto, outra qualidade
foi o uso de materiais simples, como as estruturas de ferros semelhantes às de vergalhões. Até hoje
podemos vê-los", diz Eduardo.
Ícaro fazia parte de uma geração
brilhante da arquitetura paulista,
com profissionais como Vilanova
Artigas (1915-1985), Kneese, Fábio Penteado, entre outros. Os
dois primeiros, junto de Eduardo
Corona e Rino Levi (1901-1965),
participaram do plano de construção da Cidade Universitária da
USP.
O setor esportivo ficou a cargo
de Ícaro, ex-atleta olímpico brasileiro de salto com vara. Ele construiu áreas internas agora da EEF
(Escola de Educação Física) e o
conjunto esportivo da universidade, hoje parte do Cepeusp (Centro
de Práticas Esportivas da USP).
Apesar de o conjunto estar sendo
bastante utilizado, o estádio de futebol ainda hoje está inacabado.
"Mesmo sem vínculos partidários, ele teve um papel político importante. Projetar um ginásio que
ainda hoje pode receber mais de
10 mil pessoas, quase 50 anos após
sua inauguração [em 1957], revela
uma idéia de uma arquitetura da
integração e que visa o coletivo",
avalia o curador.
O ginásio deve passar por reformas, caso o projeto de Hector Vigliecca, vencedor de um concurso
nacional, vingue. "Supervisionei
toda a seleção. Uma modernização que mantenha as linhas fundamentais do projeto original é
bem-vinda", afirma Eduardo.
Brutalismo radical
O legado de Carlos Millan ainda
pulsa quase intacto no projeto da
residência Roberto Millan (seu irmão), no Alto de Pinheiros. Apesar de ter próximas algumas casas
de linhas duvidosas, a sobriedade
do brutalismo do arquiteto ainda
impressiona.
"Temos sorte por seus antigos
clientes terem preservado em
grande parte os projetos originais,
como na residência Nadir de Oliveira e na casa Elboux", afirma a
curadora da sala especial, Mônica
Junqueira de Camargo, professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.
Síntese da austeridade brutalista destacada já por Yves Bruand,
em seu livro clássico "Arquitetura
Contemporânea no Brasil", a casa
mantém quase todos os elementos originais. Os caixilhos laranjas, as portas azuis e os elementos
construtivos à mostra continuam.
"Há uma série de soluções originais no projeto, como a separação
de elementos de circulação e ventilação, as escadas externas, as
gárgulas que escoam água da chuva para espelhos d'água", conta,
entusiasmada, a curadora.
(MG)
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