São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Obras de Ícaro e Carlos Millan ainda pulsam

DA REPORTAGEM LOCAL

Os curadores da sala que homenageia Ícaro de Castro Mello lembram das grandes dificuldades que o arquiteto teve para colocar acima a estrutura moderna do ginásio do Ibirapuera.
O arquiteto Eduardo de Castro Mello, um dos curadores, era pequeno quando seu pai o levava à antiga Invernada dos Bombeiros, como o bairro era conhecido.
"Para nós, era uma diversão. Mas já me impressionava com o grande trabalho de levantar, um a um, os arcos que sustentam a cobertura do ginásio", conta ele, que seguiu a profissão do pai e, como ele, se especializou em estruturas esportivas.
"Foi um empreendimento heróico. No projeto, outra qualidade foi o uso de materiais simples, como as estruturas de ferros semelhantes às de vergalhões. Até hoje podemos vê-los", diz Eduardo.
Ícaro fazia parte de uma geração brilhante da arquitetura paulista, com profissionais como Vilanova Artigas (1915-1985), Kneese, Fábio Penteado, entre outros. Os dois primeiros, junto de Eduardo Corona e Rino Levi (1901-1965), participaram do plano de construção da Cidade Universitária da USP.
O setor esportivo ficou a cargo de Ícaro, ex-atleta olímpico brasileiro de salto com vara. Ele construiu áreas internas agora da EEF (Escola de Educação Física) e o conjunto esportivo da universidade, hoje parte do Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP). Apesar de o conjunto estar sendo bastante utilizado, o estádio de futebol ainda hoje está inacabado.
"Mesmo sem vínculos partidários, ele teve um papel político importante. Projetar um ginásio que ainda hoje pode receber mais de 10 mil pessoas, quase 50 anos após sua inauguração [em 1957], revela uma idéia de uma arquitetura da integração e que visa o coletivo", avalia o curador.
O ginásio deve passar por reformas, caso o projeto de Hector Vigliecca, vencedor de um concurso nacional, vingue. "Supervisionei toda a seleção. Uma modernização que mantenha as linhas fundamentais do projeto original é bem-vinda", afirma Eduardo.

Brutalismo radical
O legado de Carlos Millan ainda pulsa quase intacto no projeto da residência Roberto Millan (seu irmão), no Alto de Pinheiros. Apesar de ter próximas algumas casas de linhas duvidosas, a sobriedade do brutalismo do arquiteto ainda impressiona.
"Temos sorte por seus antigos clientes terem preservado em grande parte os projetos originais, como na residência Nadir de Oliveira e na casa Elboux", afirma a curadora da sala especial, Mônica Junqueira de Camargo, professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.
Síntese da austeridade brutalista destacada já por Yves Bruand, em seu livro clássico "Arquitetura Contemporânea no Brasil", a casa mantém quase todos os elementos originais. Os caixilhos laranjas, as portas azuis e os elementos construtivos à mostra continuam.
"Há uma série de soluções originais no projeto, como a separação de elementos de circulação e ventilação, as escadas externas, as gárgulas que escoam água da chuva para espelhos d'água", conta, entusiasmada, a curadora. (MG)


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