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Laura Vinci constrói obra perecível
Em nova individual, artista usa 7.000 maçãs e disparos de 9 mm para falar sobre a passagem do tempo
SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma cena doméstica expõe
suas feridas na nova individual
de Laura Vinci, aberta hoje pela
galeria Nara Roesler. Numa
placidez artificial, milhares de
maçãs vermelhas apodrecem
sobre placas de mármore, diante de marcas de bala.
A artista comprou 7.000 maçãs e pediu a um amigo que atirasse com uma pistola 9 mm
contra a parede para montar a
instalação "Ainda Viva".
O trabalho é uma natureza-morta irônica: em vez de imortalizar a forma perfeita, expõe a
putrefação, fazendo brigar o
tempo breve da maçã com a perenidade do mármore.
É a primeira vez que ela usa
matéria orgânica e cor em sua
obra, mas o discurso não é novidade: o perecível da fruta é argumento visual para voltar a falar sobre a passagem do tempo
e a transição de elementos de
um estado para outro.
A artista é mais conhecida
pela instalação de 1997 em que
transformou um prédio abandonado numa ampulheta gigante, fazendo passar de um
andar para outro uma montanha de areia por uma fresta na
laje. Agora, ela diz querer criar
uma temporalidade carnal. "A
maçã tem algo de sangüíneo e,
ao apodrecer, a cor vermelha
vai virar só uma borra", afirma.
O vídeo "Branco", na mesma
individual, mostra o turbilhão
d'água das cataratas do Iguaçu,
numa reflexão sobre os diferentes ciclos da matéria.
A idéia se repete em outra
obra, com cerca de 40 bacias de
mármore cheias de água, exposta até 11/11 na Pinacoteca do
Estado de SP (pça. da Luz, 2, tel.
0/xx/11/3324-1000). Aquecida
por fios de cobre, a água evapora e ocupa o espaço como escultura móvel e transparente.
LAURA VINCI
Quando: abertura hoje, às 20h; de seg.
a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às
15h; até 17/11
Onde: galeria Nara Roesler (av. Europa,
655, tel. 0/xx/11/3063-2344)
Quanto: entrada franca
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