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"Um museu deve ser uma coisa viva, e não um depósito"
Álvaro Siza, um dos mais importantes arquitetos em atividade, ganha exposição e lançamento de livros em SP
Português, que projetou Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, fala à Folha sobre construir no Brasil e comenta obra de colegas
MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO
Um Álvaro Siza mais experimental emerge na exposição
"Modern Redux", que é inaugurada hoje para convidados no
Instituto Tomie Ohtake. Um livro, editado pela Cosac Naify,
acompanha a mostra, que se
concentra em 12 projetos recentes do arquiteto português,
exibidos por meio de maquetes,
fotografias, vídeos e croquis.
"Os trabalhos mais recentes
de Siza são menos debatidos.
Percebemos também que há
uma renovada vitalidade neles,
com alguns pontos ainda a
acrescentar a uma obra já extraordinariamente rica e complexa", disse à Folha o arquiteto português Jorge Figueira,
curador da exposição, enquanto definia os últimos detalhes
do projeto no escritório de Siza, em uma calma zona residencial na cidade do Porto.
Siza, 75, ganhador do mais
importante prêmio em sua
área, o Priztker, em 1992, guarda boas lembranças de seu único projeto no Brasil, a Fundação Iberê Camargo, em Porto
Alegre, que ganha também livro da mesma editora. "É a melhor recordação que eu guardo
da minha atividade profissional", contou o arquiteto, que
falou à Folha sobre construções recentes e outros colegas
de atividade, como Jean Nouvel e Richard Rogers, os últimos laureados com o Pritzker.
A seguir, as principais declarações do arquiteto na entrevista,
que reclama de um caminho
verde que a prefeitura de Viana
do Castelo, em Portugal, acrescentou a um de seus projetos.
A FUNDAÇÃO IBERÊ
O melhor é que já é uma recordação. Já é passado e é, provavelmente, a melhor recordação
que eu guardo da minha atividade profissional, porque houve ali uma convergência de interesses, desejos e entusiasmos
que não acontecem muitas vezes. Um dos grandes problemas
para conseguir qualidade na arquitetura é que o dono da obra,
quem paga a obra, é quem manda no arquiteto. Se ele não está
particularmente interessado, é
muito difícil atingir uma certa
qualidade. Se, realmente, há
um interesse grande, se há boas
condições de trabalho, é mais
natural que aconteça a arquitetura. Eu acho que no Iberê Camargo houve isso [o museu foi
inaugurado em maio passado].
INFLUÊNCIA DO PINTOR NO MUSEU
O fato de ter conhecido a obra de
Iberê Camargo [1914-1994] e tido oportunidade de ver uma
parte significativa da coleção
constituiu um impulso grande
para o projeto do museu. É uma
obra de grande qualidade e que
cria uma vontade de ligação, às
vezes contestada, entre as várias
artes. Nesse caso, entre a pintura
e a arquitetura.
Mas, como museu de arte contemporânea, também dedica-se
a exposições temporárias, mantendo o que deve ser o centro de
um museu, ser uma coisa viva e
não um depósito visitável. Um
museu deve ter a capacidade de
receber coisas muito diferentes.
MUDANÇAS EM PROJETOS
A Biblioteca de Viana do Castelo é uma plataforma, à beira de
rio, um sítio aonde irá muita
gente, dentro de uma cidade
histórica, mas que não pode ter
obstáculos. Talvez tenha sido
alterado por sensibilidade a
certas críticas da opinião pública. E foi colocado um caminho
verde ridículo. Não que eu seja
contra o verde, muito pelo contrário. Já fiz muitos espaços
verdes nesses longos anos. Agora, em alguns casos, é um corpo
estranho, não se justifica, como
nessas mudanças feitas.
ROGERS E NOUVEL
O Prêmio Pritzker dá muita visibilidade às obras do arquiteto
escolhido. Um prêmio é muito
agradável, mas depende de
muitíssimas coisas. Eu acho
que ninguém tem que ficar vaidosíssimo por ter um prêmio.
Os últimos dois [Jean Nouvel,
neste ano; Richard Rogers, no
ano passado] são grandes arquitetos. O Nouvel tem uma
obra vastíssima, infatigável. E o
Rogers, o que mais gosto dele é
o aeroporto de Barajas, em Madri, grande e com clareza.
O ESPAÇO BRASILEIRO
Para um europeu, trabalhar no
Brasil abre caminhos. É uma
impressão muito forte. Por
exemplo, o Brasil foi decisivo
na obra do Le Corbusier. Para
um português, vem aquela sensação de espaço infindável, que
nós não temos aqui.
O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da
organização da mostra
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