São Paulo, sexta-feira, 16 de outubro de 2009

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Crítica

"Colin" é apenas mais um terror "caseiro" no cinema

ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se existisse um Oscar para a categoria "hype mais fajuto", "Colin" seria uma barbada. O filme de zumbis dirigido por Marc Price ganhou fama em Cannes por ter custado, segundo o diretor, US$ 70. O que leva a crer que Price encontrou todo o equipamento no lixo e que os atores e técnicos passaram fome durante os 18 meses de filmagem.
Numa época em que orçamentos de US$ 100 milhões não causam mais espanto, "Colin" está sendo saudado como o novo salvador do cinema independente. Já vimos esse filme antes: "El Mariachi" (1992) e "A Bruxa de Blair" (1999) são dois filmes caseiros que fizeram sucesso nas salas e também foram recebidos como modelos de cinema alternativo.
Jogadas de marketing à parte, "Colin" é apenas isso: um filme caseiro. Bem feito, dirigido com capricho e inventividade, mas, no fim das contas, um filme caseiro. Qualquer comparação com clássicos dos filmes de zumbi, especialmente "A Noite dos Mortos Vivos" (1968), de George Romero, é um exagero que merece ser punido com uma bela mordida no cérebro.
No filme de Price, o jovem Colin, depois de atacado por um morto-vivo, vira zumbi e passa a vagar pela cidade, presenciando carnificinas e participando de algumas delas.
O filme recicla clichês que Romero inventou há mais de 40 anos: cenários pós-apocalípticos, ruas vazias dos faroestes e heróis solitários, que tentam salvar a raça humana.
Mas falta em "Colin" o que sobra em Romero: bons personagens. Romero, ao inventar um herói negro, morto na cena final por um policial que o confundira com um zumbi, fez uma poderosa metáfora aos distúrbios raciais do fim dos anos 60 na América. Por trás de todo o sangue e tripas, "A Volta..." era um filme com ideias.
Já "Colin" é um desfile de sequências sanguinolentas, sem uma narrativa para costurá-las. Vemos zumbis atacando pessoas, depois pessoas atacando zumbis, num rodízio interminável. Após uns 15 minutos, o espectador, anestesiado por tanto sangue, pela câmera epiléptica e por uma trilha sonora que mais lembra o bombardeio a Stalingrado, fica que nem zumbi: não sente mais nada.
No terror, o clímax não é nada sem as preliminares. O susto só funciona quando precedido do silêncio. Mas "Colin" prefere punir o espectador com um ataque brutal aos sentidos. O resultado, como outras recentes produções -"O Albergue", a série "Jogos Mortais"- é mais um terror sem suspense.

Avaliação: regular


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