São Paulo, sexta-feira, 16 de outubro de 2009

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Le Clézio ganha o mar e os palcos em versão brasileira de "Pawana"

Renomado diretor francês adapta Prêmio Nobel de Literatura para o teatro

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Das águas quentes do golfo da Califórnia, na costa do México, às histórias do mar de Herman Melville, em "Moby Dick", o Prêmio Nobel de Literatura de 2008, Jean-Marie Gustave Le Clézio, bebe as fontes de inspiração para seu único texto para teatro: "Pawana".
E é sob a direção do conceituado encenador francês, seu compatriota, Geroges Lavaudant, que a peça tem duas apresentações, hoje e amanhã, em São Paulo. Mas a história da incursão de Le Clézio nos palcos remonta a 30 anos atrás.
Um ainda jovem Lavaudant, bem antes de se tornar o diretor do respeitado Theâtre de L'Odéon em Paris -cargo que ocupou de 1997 a 2007-, encantado com a literatura de Le Clézio, lhe escreve uma carta entusiasmada: queria adaptar seus romances para o palco.
"Eu nem o conhecia, mas, ainda assim, ele me respondeu", conta Lavaudant. E a resposta foi não. "Ele me disse: "O que faço é literatura"." A insistência, porém, foi grande e, em fins da década de 80, quando Le Clézio tinha uma pequena nova história em mãos, finalmente a confiou a Lavaudant.
Era "Pawana", publicado em livro em 1992, na França, montado pela primeira vez pouco tempo depois e que agora ganha versão brasileira. Otávio Martins e Celso Frateschi dividem a cena a partir de texto traduzido por Leonardo Fróes e que é lançado neste mês pela editora Cosac Naify.
A história da peça remonta a um tema caro a Le Clézio -a relação do homem com a natureza. Dois marinheiros, o jovem John, de Nantucket, e o capitão Charles Melville Scammon, em duas breves narrativas rememoram os dias em que, embarcados no Léonore, descobriram o local secreto de reprodução das baleias, no golfo da Califórnia.
"Eles buscavam dinheiro, eram homens do mar. Mas, de repente, se deparam com a beleza absoluta daquilo que estão destruindo: as baleias", conta Lavaudant. E se hoje o alarde em torno das questões ecológicas traz certa urgência à peça, não é exatamente esse filão politicamente correto que o diretor francês quer explorar.
"Tanto melhor se um espetáculo tem ressonância política e faz as pessoas refletirem. Mas, para mim, o teatro é um divertimento, deve fazer sonhar. Se só há reflexão, o teatro torna-se entediante. Não dou lições de política nem de moral. É a arte que atrai o público."


PAWANA

Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Tusp (r. Maria Antônia, 294, tel. 0/xx/11/3255-7182); 10 anos
Quanto: entrada franca




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