São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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CRÍTICA COLETÂNEA

"Paisagem Moderna" reúne célebres ensaios

Charles Baudelaire enaltece procura da beleza em coisas passageiras e John Ruskin comenta reflexos nas artes

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos maiores poetas do século 19, Charles Baudelaire (1821-1867) também se destacou como crítico de arte.
Um dos maiores críticos de arte do século 19, o inglês John Ruskin (1819-1900) podia escrever como poeta. A pesquisadora Daniela Kern, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve a boa ideia de reunir escritos de Baudelaire e de Ruskin num mesmo livro, a que com certa liberdade intitulou "Paisagem Moderna".
Em tese, os textos teriam como foco os julgamentos dos críticos sobre os paisagistas de seu tempo: principalmente Théodore Rousseau (1812-1867) e Corot (1796-1875), no caso de Baudelaire, e William Turner (1775-1851), no caso de Ruskin.
A coletânea se alarga, entretanto, para abrigar uma seleção das opiniões de Ruskin sobre a invenção da fotografia (imprescindível, segundo ele, para documentar as obras do passado, submetidas a uma febre de restaurações que ele deplorava). Incluiu-se também no livro o célebre ensaio de Baudelaire sobre Constantin Guys (1802-1892), "O Pintor da Vida Moderna".

NATUREZA DESABITADA
Este último texto, já publicado algumas vezes no Brasil, condena a pintura acadêmica do século 19, presa às cenas históricas, aos figurinos greco-romanos e às decorações teatralizadas. Baudelaire enaltece a procura da beleza no interior do temporário, do passageiro -em especial a moda e os costumes urbanos de Paris.
Ruskin vê em Turner igual comprometimento com a verdade de seu próprio tempo e lugar. Mas vai além, notando que o surgimento da natureza desabitada nos quadros modernos é um fenômeno inédito na história, algo que nem Homero, na Antiguidade, nem São Francisco de Assis, na Idade Média, poderiam compreender.
O texto de Ruskin descreve essa virada na sensibilidade ocidental, comentando longamente seus reflexos na literatura. É Walter Scott, e não um poeta famoso pelo seu culto à natureza como Wordsworth, quem ganha as preferências de Ruskin.
O ensaio vale o livro. A despeito dos "insights" poéticos, as análises de Ruskin a respeito da pintura de Turner são excessivamente detalhadas -e a falta de ilustrações é um problema desta edição.
Falhas de tradução, critérios erráticos para as notas de rodapé e a inclusão de vários trechos insignificantes dos dois autores exigem, ademais, certa vista grossa por parte do leitor.

PAISAGEM MODERNA

ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO Daniela Kern
EDITORA Sulina
QUANTO R$ 30 (246 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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