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CRÍTICA COLETÂNEA
"Paisagem Moderna" reúne célebres ensaios
Charles Baudelaire enaltece procura da beleza em coisas passageiras e John Ruskin comenta reflexos nas artes
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Um dos maiores poetas do
século 19, Charles Baudelaire
(1821-1867) também se destacou como crítico de arte.
Um dos maiores críticos de
arte do século 19, o inglês
John Ruskin (1819-1900) podia escrever como poeta.
A pesquisadora Daniela
Kern, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve
a boa ideia de reunir escritos
de Baudelaire e de Ruskin
num mesmo livro, a que com
certa liberdade intitulou
"Paisagem Moderna".
Em tese, os textos teriam
como foco os julgamentos
dos críticos sobre os paisagistas de seu tempo: principalmente Théodore Rousseau
(1812-1867) e Corot (1796-1875), no caso de Baudelaire,
e William Turner (1775-1851),
no caso de Ruskin.
A coletânea se alarga, entretanto, para abrigar uma
seleção das opiniões de Ruskin sobre a invenção da fotografia (imprescindível, segundo ele, para documentar
as obras do passado, submetidas a uma febre de restaurações que ele deplorava).
Incluiu-se também no livro o célebre ensaio de Baudelaire sobre Constantin
Guys (1802-1892), "O Pintor
da Vida Moderna".
NATUREZA DESABITADA
Este último texto, já publicado algumas vezes no Brasil, condena a pintura acadêmica do século 19, presa às
cenas históricas, aos figurinos greco-romanos e às decorações teatralizadas.
Baudelaire enaltece a procura da beleza no interior do
temporário, do passageiro
-em especial a moda e os
costumes urbanos de Paris.
Ruskin vê em Turner igual
comprometimento com a
verdade de seu próprio tempo e lugar.
Mas vai além, notando que
o surgimento da natureza desabitada nos quadros modernos é um fenômeno inédito
na história, algo que nem Homero, na Antiguidade, nem
São Francisco de Assis, na
Idade Média, poderiam compreender.
O texto de Ruskin descreve
essa virada na sensibilidade
ocidental, comentando longamente seus reflexos na literatura. É Walter Scott, e
não um poeta famoso pelo
seu culto à natureza como
Wordsworth, quem ganha as
preferências de Ruskin.
O ensaio vale o livro. A
despeito dos "insights" poéticos, as análises de Ruskin a
respeito da pintura de Turner
são excessivamente detalhadas -e a falta de ilustrações é
um problema desta edição.
Falhas de tradução, critérios erráticos para as notas de
rodapé e a inclusão de vários
trechos insignificantes dos
dois autores exigem, ademais, certa vista grossa por
parte do leitor.
PAISAGEM MODERNA
ORGANIZAÇÃO E TRADUÇÃO Daniela
Kern
EDITORA Sulina
QUANTO R$ 30 (246 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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