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Ceará lança inéditos de José de Alencar
Manuscritos do autor romântico mergulham na antropologia e na filosofia para discutir colapso da civilização
Ensaios estavam guardados no Museu Histórico Nacional, no Rio; pesquisadores também analisam obra
FILIPE MOTTA
DE SÃO PAULO
Manuscritos inéditos do
escritor cearense José de
Alencar (1829-1877) serão
lançados na próxima segunda-feira, em Fortaleza, pela
Editora da UFC (Universidade Federal do Ceará).
A publicação de "Antiguidade da América e a Raça Primogênita" busca corrigir o
que alguns estudiosos da sua
obra consideram injustiça.
Nesses ensaios, o autor
abandona a ficção -o escritor faz parte da escola romântica da literatura brasileira-
e se concentra na filosofia e
na antropologia para dar
conta do surgimento e do colapso da civilização.
"O berço da humanidade
foi a América; não esta regenerada; mas a primitiva
América, tal como saiu da gênese universal", afirma ele
numa passagem de "Antiguidade da América".
Em outro trecho, diz: "A
intervenção divina é infalível. Outrora manifestou-se
pelo dilúvio; chegará a vez
da combustão".
Para Alencar, o apogeu da
Europa até o final do século
19 seria somente uma fase da
humanidade e o colapso dela
se daria no retorno das atenções à América.
"Ele mostra uma versão
universalizante do mundo e
se antecipa, inclusive, a
questões contemporâneas,
como o esgotamento dos recursos naturais", afirma o organizador do projeto, o professor de literatura da UFC
Marcelo Peloggio, organizador do trabalho.
De acordo com ele, os ensaios mostram preocupações
de alguma forma presentes
na obra do escritor, mas que
não eram bem assimiladas:
"O material revitaliza a obra
alencarina. Abre um novo
diálogo com o autor".
Os ensaios revelam, segundo Peloggio, um intelectual preocupado com a interferência divina e suas leituras, como as do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
e do naturalista Charles Darwin (1809-1882).
RAÇA SELETIVA
Em "A Raça Primogênita",
ele escreve: "Embora reconheça a verdade das duas
leis da seleção e da evolução,
aparto-me da doutrina de
Darwin em não considerar
essas leis como absolutas,
mas subordinadas ao princípio da criação".
Elaborados entre setembro e novembro de 1877, os
textos têm alguns trechos
inacabados, esboços para
desenvolvimento futuro,
conta Peloggio. Alencar morreria de tuberculose em dezembro daquele ano.
Os dois ensaios foram retirados do caderno número
quatro dos 11 manuscritos de
Alencar guardados no Museu Histórico Nacional, no
Rio de Janeiro. Os papéis incluem ainda outros textos
inéditos -inclusive alguns
apócrifos.
Pequenas passagens do
material chegaram a ser publicadas por Alceu Amoroso
Lima em 1965 -numa edição
comemorativa de "Iracema"- e em textos acadêmicos, mas essa é primeira vez
que eles são publicados integralmente.
Os ensaios são acompanhados de três artigos, escritos por Eduardo Vieira Martins, da Universidade de São
Paulo, César Sabino, da Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro, e Peloggio.
A ANTIGUIDADE DA
AMÉRICA E A RAÇA
PRIMOGÊNITA
AUTOR José de Alencar
EDITORA Editora da UFC
QUANTO R$ 30 (198 págs.)
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