São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRECHO

"Enquanto o Eldorado utópico, em "Terra em Transe", encontra-se viciado na origem por ser um projeto da classe dominante para seu próprio usufruto, em "Terra Estrangeira" trata-se de uma crença positiva da classe média, endossada (como perda) pela enunciação. Os personagens simbólicos, animados pela urgência de mudar o mundo, dão lugar a indivíduos comuns, movidos por aspirações pessoais. Coerentemente, a "pátria" se transforma em "pai" e a política, em religião. É típico de Walter Salles, cineasta intelectualizado e com plena consciência dos conceitos que manipula, que tais opções ganhem uma expressão verbal e didática: a mãe de Paco morre murmurando a palavra "pai" em basco, não sem antes identificar o filho com seu próprio pai, que nunca pôde rever. Este filho, por sua vez, é chamado por uma vizinha de "Cristo Redentor", quando, com os braços abertos, prova uma camisa para a mãe costureira, detalhe que anuncia seu fim sacrificial. Paco é caracterizado ainda como um descendente dos antigos conquistadores que outrora pensaram ter conquistado o paraíso na América."

Extraído de "A Utopia no Cinema Brasileiro", de Lúcia Nagib

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Crítica: Nagib vê utopias em longas nacionais da década de 90
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.