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Crítica
Nagib vê utopias em longas nacionais da década de 90
CRÍTICO DA FOLHA
"O Cinema da Retomada - Depoimentos de 90 Cineastas
dos Anos 90", organizado por
Lúcia Nagib (ed. 34), e "Cinema
de Novo - Um Balanço Crítico
da Retomada", de Luiz Zanin
Oricchio (ed. Estação Liberdade), publicados respectivamente em 2002 e 2003, já haviam aberto, no formato livro, a temporada de reflexão ampla e
consistente sobre a cinematografia do país no período posterior ao governo Collor.
Mais verticalizado na análise,
"A Utopia no Cinema Brasileiro - Matrizes, Nostalgia, Distopias" tem um recorte bem definido, de uma dúzia de filmes,
para estudar "o ressurgimento
do gesto utópico no cinema
brasileiro a partir de meados da
década de 90, bem como suas
variações e negações".
Primeiro, a autora introduz a
"matriz dialética de utopia e
antiutopia estabelecida pela
obra de Glauber Rocha", centrando-se sobre imagens de
mar e "a profecia utópica mais
famosa do cinema brasileiro,
expressa em "Deus e o Diabo na
Terra do Sol" (1964): "O sertão
vai virar mar, e o mar vai virar
sertão'".
A investigação do "imaginário marítimo glauberiano" conduz ao "ponto inicial da curva utópica recente" em "Terra Estrangeira" (1995), de Walter Salles, bem como a "Corisco e Dadá" (1996), de Rosemberg Cariry, "Crede-mi" (1997), de Bia
Lessa e Dany Roland, "Baile
Perfumado" (1997), de Paulo
Caldas e Lírio Ferreira, e "Abril
Despedaçado" (2001), também
de Salles.
Capítulos seguintes analisam
a "utopia vazia" - em "Central
do Brasil" (1998) e "O Primeiro
Dia" (1999), de Salles, e "Latitude Zero" (2000), de Toni Venturi -, o "eu e o outro antropófago" ("Hans Staden", 1999, de
Luiz Alberto Pereira), o "paraíso negro" ("Orfeu", 1999, de
Carlos Diegues), a "utopia interrompida" ("Cidade de
Deus", 2002, de Fernando Meirelles) e a "distopia urbana" ("O
Invasor", 2002, de Beto Brant).
Escritos por uma excelente
leitora do audiovisual, os ensaios têm a característica primordial de todo bom estudo de cinema: tornam quase obrigatório rever esses filmes com o
olhar atento à abordagem proposta por Nagib.
(SÉRGIO RIZZO)
A UTOPIA NO CINEMA BRASILEIRO
Autora: Lúcia Nagib
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 55 (216 págs.)
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