São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Sapatinho de Cristal

Aos 30 anos, Carolina Dieckmann, a protagonista da novela "Três Irmãs", diz que escolheu "falar a verdade a ter de dizer o que as pessoas querem ouvir"

Fotos Luciana Whitaker/ Folha Imagem
Na hora da foto, Carolina Dieckman vale-se apenas de pó e rímel

"Assisto a "Mulheres Apaixonadas" [de 2003, exibida em "Vale a Pena Ver de Novo'], em que trabalhei, e vejo o quanto amadureci internamente. Não digo esteticamente, porque ninguém ganha um monte de rugas em cinco anos, mas vejo que foi justamente naquele momento em que meu castelo cor-de-rosa estava desabando. Meu casamento [com o ator Marcos Frota], que pensei que fosse durar para sempre, estava chegando ao fim. Comecei a amadurecer de verdade."

 


O desabafo da atriz Carolina Dieckmann acontece durante rápida parada entre uma cena e outra da novela "Três Irmãs". Sentada num sofá do estúdio três do Projac, no Rio, ela dá entrevista e tira fotos apenas com pó no rosto e rímel marrom. Enquanto ela conversa, José Wilker anda de um lado para o outro com textos da novela nas mãos. "Oi, tudo bem?" "Não", responde ele, seco.
 


A mãe de Davi e de José continua a falar sobre seu lado esposa. No episódio da vida real em que a atriz Luana Piovani denuncia o ex-noivo, Dado Dolabella, depois de ser agredida por ele e de vê-lo agredir uma idosa, Carolina diz: "No meu caso, isso não teria acontecido. Eu não provocaria meu namorado bêbado em uma boate. Também não brigaria em um local público. Simplesmente iria embora". Preocupada com o impacto da frase, ela volta atrás para esclarecer. "Olha, não estou tomando partido. Só estou dizendo que minha atitude seria diferente."
 


Entre a Carolina de 25 anos e a de 30 anos está o casamento com Tiago Worcman, o segundo filho, José, e a felicidade "em descobrir que o mundo não é cor-de-rosa". "Assim você tem menos expectativas e, com isso, se frustra muito menos." Apesar de seu castelo estar hoje pintado de outra cor, a atriz ainda se diz "romântica". "Ah, sou superchorona, ouço música romântica, gosto de flores, coloco um vestido e penso se meu marido vai gostar. Acho também que ser romântica é acreditar que o Obama [presidente eleito dos EUA] vai mudar o mundo pra melhor."
 


A atriz Maitê Proença, sua colega de elenco, aparece na salinha de entrevista vestindo uma saia branca, sandálias altas e rosto ao natural. "Maitê, Maitê, me ajuda aqui. O que é ser romântica para você?" "Ah, pra mim é chorar, é se emocionar com as coisas. Aquele choro que vem de dentro pra fora", responde.
 

Maitê estranha o fato de Carolina estar cercada por três jornalistas. "Carol, mas você tem tanto assim para falar? Pra que tanta gente?" Na verdade, há apenas a reportagem da Folha. As outras duas profissionais são assessoras de imprensa da TV Globo que acompanham a conversa. Uma delas anota no bloquinho todas as respostas da atriz. Argumentam que é para não haver discordância entre as aspas publicadas e as ditas.
 

"Depois de uma entrevista eu invariavelmente tomo um pito dos assessores. Me dizem: "Ah, você não pode falar sobre prisão de ventre". Gente, eu sempre falei sobre cocô. Falo sobre cocô com meus filhos e acho uma coisa perfeitamente natural." A declaração de que passou fome para perder os 29 quilos que ganhou em sua última gravidez despertou reações diversas no público, sob argumento de que ela estaria dando mal exemplo com esse tipo de afirmação. "Cara, sou assim. Não vou dizer que comi um bifinho com salada para as pessoas imitarem. Não sou médica. Fiz a escolha de sempre, falar a verdade a ter de dizer o que as pessoas querem ouvir."
 


O jeitão direto e certa timidez levaram a atriz a ter relativa fama de chata -pecha difundida sobretudo pelo programa "Pânico na TV", da RedeTV!, que perseguiu a atriz para que ela calçasse as "sandálias da humildade", há três anos. "Gata, eu sou julgada o tempo todo. Se eu for à manicure, ela me tirar um bife e eu gritar, pronto! Todo mundo já vai dizer que eu sou louca, histérica, que maltratei a manicure."
 


Séria, continua argumentando, enquanto abraça as pernas colocando os pés sobre o sofá de couro bege. "Eu, particularmente, não acredito nas pessoas que riem demais. O mundo não é uma maravilha, o mundo tá puxado, as pessoas têm problemas. Desconfio dessa gente que está no supermercado e, de repente, tá sorrindo [ela imita cliques de fotos com sorrisão]. Não é possível, gente, o feijão subiu e a pessoa tá lá sorrindo. Desculpe, mas não tem do que rir no mercado, a não ser que ela tenha um problema na boca. Sou tímida, pouca gente freqüenta minha casa, não abro a guarda, não. No trânsito, se uma pessoa me reconhece pelo vidro do carro, eu penso: "Será que o cara me reconheceu? Ou será que fiz alguma merda [no trânsito]?". Tem gente que não liga, tá todo mundo olhando e ela tá lá, "cagando", nem aí."
 


É hora de gravar mais uma cena e ela entra no camarim. Troca a calça Diesel e a camisetinha por um saião até o pé e um top de biquíni. Começa uma argumentação com a figurinista. A atriz diz que não tem cabimento a personagem dela, uma professora, ir dar aula com aquele traje. Todos concordam. Carolina volta para o camarim e reaparece com uma blusinha por cima.
 


Antes de entrar na trama de Antônio Calmon, ela diz ter consumido "uns dez livros" sobre Oriente Médio - entre eles, "O Caçador de Pipas". Leu também a biografia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Diz que não votou em Lula, mas que ao vê-lo subindo a rampa do Planalto pela primeira vez, chorou, estava "cheia de esperança".
 


"Infelizmente Lula se elegeu, mas o país não melhorou. Algumas coisas por erro dele, outras por problemas que já haviam quando ele chegou, em outros casos por omissão. O país está um ... [e solta um palavrão tipo infração média]." Como um disparo em que a bala mal chega ao destino, ela volta atrás. Até que a garota que fala tudo o que pensa parece aterrorizada e tenta se censurar. "Ai, por favor, não bota o palavrão!" E não é por causa de nenhum assessor. "Gente, não quero que meu filho me veja falando palavrão, por favor!"


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