São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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"Não há Freud em Bush"

O ator Josh Brolin, que interpreta o presidente dos EUA no filme "W.", de Oliver Stone, fala à Folha sobre o mandatário americano e comenta a chegada do sucesso, aos 40 anos

Fotos Divulgação
O ator Josh Brolin no papel de George W. Bush no filme "W."

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

Ao encarnar um dos mais impopulares personagens da política mundial, o ator Josh Brolin virou queridinho da América. Desde que estreou, no mês passado, nos EUA, como George W. Bush no filme sobre o presidente norte-americano "W.", de Oliver Stone, Brolin passou a ver elogios colados ao seu nome em jornais e revistas.
O ator diz que, se julgasse seus personagens, não seria capaz de obter o resultado apontado pela maioria da crítica -um Bush no limite do comovente, mais digno de pena do que de repulsa. Não conseguiria nem sequer interpretá-los. "Tenho muitos sentimentos em relação a ele [Bush]. Mas, quanto mais me permito absorver o aspecto humano de qualquer pessoa, acho tudo mais interessante. Eu me concentro nisso: como posso aprender mais sobre Bush?"
Depois de esquadrinhar seu personagem, Brolin passou a encarar o presidente americano como "um homem de uma convicção incrível, mas que não tem uma habilidade muito grande para refletir sobre si mesmo, para contemplar sua vida psíquica". Conclusão do ator: "Não há Freud em Bush".
Embora o presidente, na visão de Brolin, seja refratário à psicanálise, Stone faz do conflituoso vínculo de George W. Bush com o pai, George H. W. Bush (James Cromwell), um traço preponderante da trama.

A Casa Branca gostou?
O êxito da interpretação de Brolin teria chegado até a Casa Branca. "Disseram-me que o velho e bom George viu o filme e gostou, o que faz todo sentido para mim", afirma Brolin.
O presidente norte-americano não se manifestou publicamente sobre o longa. Mas seu irmão, Jeb Bush, qualificou de "uma porcaria" a representação da família Bush em "W.". Ator profissional desde os 17 anos, Brolin só conheceu o sucesso agora, aos 40. Acha que "o momento não poderia ser melhor". E explica por quê: "Sou um pai que gosta de tomar conta dos filhos. Consegui ter um trabalho feito modestamente e criar meus filhos, o que é maravilhoso", diz, referindo-se à década de 1990, em que atuou em telefilmes e seriados de TV, fez teatro e nenhum grande sucesso no cinema.
"Agora, milha filha está nos últimos anos do colégio, meu filho está na faculdade, e isso acontece! Quando viajo, não tenho que ficar preocupado com quem vai cuidar das crianças. Eles já têm autonomia", diz.

Virada com os Coen
As andanças recentes de Brolin foram muitas no western "Onde os Fracos Não Têm Vez", dos irmãos Joel e Ethan Coen, em que ele interpreta o caçador Llewelyn Moss. O filme competiu no Festival de Cannes em 2007 e venceu o Oscar deste ano. Foi o ponto zero na virada da carreira de Brolin.
No próximo dia 5/12, estréia nos EUA outro filme que deverá manter Brolin sob os holofotes. Em "Milk", de Gus van Sant, ele interpreta Dan White, o assassino do protagonista, Harvey Milk (Sean Penn).
A Folha assistiu ao filme neste mês e encontrou Brolin em seguida, para uma conversa sobre seu trabalho da qual participaram outros jornalistas. Van Sant reconstitui em seu filme um episódio real. Milk foi o primeiro congressista americano declaradamente gay, eleito após anos de ativismo pelos direitos dos homossexuais.
White é, como define Brolin, um representante da "mentalidade católica branca" que se vê "mais e mais frustrado" com as conquistas de Milk. Para o ator, "não há paralelo" entre os dois personagens, embora ambos sejam políticos. "Dan era emocionalmente perturbado e tentava achar um jeito de lidar consigo mesmo, de se encaixar", afirma.
Já sobre Bush, Brolin diz: "Não acho que ele seja muito torturado. No fim do filme há um tom sombrio, mas também quase engraçado, quando ele se olha no espelho, com os olhos lacrimejantes, e Laura [Bush, interpretada por Elizabeth Banks] o consola dizendo: "Vamos ver sua peça favorita, "Cats"." Isso é totalmente absurdo e engraçado", diz.
"W." não tem lançamento previsto no Brasil. "Milk" será lançado pela Paramount em data ainda não definida.

A jornalista SILVANA ARANTES viajou a Los Angeles a convite da Paramount.


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