Próximo projeto do autor deve ser retratar Jerusalém

DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o artista canadense Guy Delisle viajou à China, em 1997, decidiu narrar a experiência em um gibi. Para quem estava no país por três meses para liderar uma equipe de animadores, a tarefa não parecia complicada.
Só que, uma vez lá, Delisle começou a achar o projeto um pouco vago. Na cidade de Shenzhen (ao norte de Hong Kong), em que quase ninguém falava inglês, a solidão o encontrou e transformou seus dias em puro tédio. O que poderia contar dessa experiência? Justamente a sensação de estar só.
"Quando voltei da China, percebi que, mesmo que meus dias não tivessem sido bons, seriam divertidos para os leitores", diz à Folha, por telefone. "É interessante que eu estivesse perdido em uma situação de não comunicação."
Assim, ele narra em "Shenzhen - Uma Viagem à China" suas impressões a respeito de um país bem diferente do seu.
Em meio ao silêncio de sua solidão, o autor tem tempo de reparar em tudo ao seu redor e de encadear diversos comentários leves, mas curiosos.
Chega até a reparar no cheiro de seu cocô -acha-o diferente de quando o faz na França, onde mora atualmente.
Além de "Shenzhen - Uma Viagem à China" (lançado originalmente em 2000), Delisle publicou "Pyongyang - Uma Viagem à Coreia do Norte" (2003) e "Crônicas Birmanescas" (2007). Ambos chegaram ao Brasil pela Zarabatana.
Para narrar as crônicas dessas três viagens, Delisle usou a mesma técnica. "Começo a trabalhar nos livros alguns meses após voltar", diz. "Para mim, é melhor desenhar depois de um tempo, preciso de distância."
Precisa, também, de uma permanência relativamente longa no país retratado. Passou, recentemente, um ano em Jerusalém -provavelmente, o próximo local que traçará.
É por isso que não tem planos de rabiscar episódios sobre sua vinda ao Brasil em outubro passado para participar do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte.
O problema é que o artista esteve aqui por cerca de uma semana, apenas, e teme só conseguir falar de "coisas turísti- cas"."O Rio é lindo, mas todo turista pode ver isso."