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"Gosto de escrever, não de publicar", diz Ricardo Piglia
Uma das atrações da Fliporto, em Pernambuco, autor
argentino quebra jejum de 13 anos e lança romance
"Blanco Nocturno" será
traduzido no Brasil em
2011; autor afirma que
protagonista "teve mais
mulheres" do que ele
MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A OLINDA (PE)
O simpático senhor que
conversou com a Folha em
nada aparenta ser o autor de
romances violentos e soturnos, como "Respiração Artificial" (1980).
Bem-humorado, Ricardo
Piglia, 68, foi um dos destaques desta edição da Fliporto
(Festa Literária Internacional
de Pernambuco), que terminou ontem em Olinda.
Após 13 anos sem publicar
romances, ele lançou neste
ano "Blanco Nocturno", história policial com o personagem Emilio Renzi, espécie de
alter ego de Piglia. O livro será lançado pela Companhia
das Letras em 2011.
Leia trechos da entrevista.
Folha - Por que ficou tanto
tempo sem lançar romance?
Ricardo Piglia - Tenho um
método de escrita que não recomendo a ninguém. Primeiro faço uma primeira versão e
retorno ao manuscrito apenas anos depois. Então escrevo novas versões. Em todo
caso, também não creio que
deva publicar muito.
Há um excesso de livros hoje?
Penso que sim. Escrever é
um acontecimento, um desafio. Hoje há uma circulação
excessiva, que não depende
tanto da inspiração ou da relação com a linguagem, e sim
do mercado. Escrever é, para
mim, mais prazeroso do que
publicar. Talvez eu seja um
escritor um pouco arcaico.
O que o atrai tanto no gênero
policial?
Interessa-me porque permite trabalhar questões sociais e políticas sem cair na
simplificação. É a possibilidade de fazer um relato que
engloba tudo, por isso é um
gênero muito poderoso.
O sr. já escreveu que "o crítico
é o investigador, e o escritor é
o criminoso". Quem seria, então, a vítima?
É o leitor [risos]... Não,
não, estou brincando. Porém
há sempre vítimas. Uma escrita é sempre contra algo.
"Blanco Nocturno" fala dos
campos argentinos, dos
pampas. Há muitos livros sobre isso. Então "Blanco..."
converte em vítima a tradição de narrar esse mundo.
O personagem Emilio Renzi
tem muitas semelhanças com
o senhor?
Ele tem elementos de minha vida, inclusive fisicamente. Ele vive coisas que eu
teria gostado de viver. Sempre está metido com um
mundo perigoso, com bandidos. Também teve mais mulheres do que eu [risos].
O que achou do Nobel dado a
Mario Vargas Llosa?
Vargas Llosa mereceu o
prêmio, mas a obra dele que
me interessa só vai até "Conversa na Catedral" (1969).
Depois não há mais nada de
novo. Politicamente também
temos algumas divergências.
O repórter MARCO RODRIGO ALMEIDA
viajou a convite da Fliporto
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