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"MORO NO BRASIL"
Finlandês investiga raízes musicais do Brasil
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Cinco anos atrás, o cineasta finlandês Mika Kaurismäki percorreu cerca de 4.000
quilômetros pelo país em busca das raízes da música brasileira. Parte do resultado dessa investigação está em "Moro no
Brasil", um documentário curioso que revela artistas e manifestações musicais que até a
maioria dos brasileiros desconhece.
Ex-baterista, o quarentão
Kaurismäki começa o filme
provocando sorrisos. Conta
que surpreendeu seus amigos
da juventude ao trocar um disco da banda de rock Deep Purple por uma exótica compilação de música brasileira. Décadas depois, já vivendo no Rio,
onde até abriu um bar, decidiu
conhecer "in loco" essa diversidade musical.
Ciente da impossibilidade de
reunir tantas manifestações em
um único filme, o cineasta centrou sua investigação em Pernambuco, Bahia e Rio. Em cada
região, contou com a ajuda de
artistas que introduzem ao espectador os ritmos e músicos
locais.
Assim, o cantor Silvério Pessoa narra de forma quase
proustiana como conheceu os
maracatus em sua infância, no
interior pernambucano. E a carismática dupla de emboladores Caju (que morreu após a filmagem) e Castanha conta como a miséria os transformou
em artistas, nas ruas de Recife.
Em outras cenas é o próprio
cineasta que apresenta suas
descobertas, como a vibrante
percussão do grupo Bagunçaço, formado por moradores
das palafitas de Salvador. Ou o
improvável balé afro que as
meninas do Majê Molê criaram
como alternativa de lazer, em
uma região pobre de Recife.
Sabe-se que Kaurismäki também filmou alguns medalhões
da MPB, como Lenine e Carlinhos Brown, mas decidiu deixá-los de fora, optando por um
elenco de artistas pouco ou nada conhecidos no exterior. As
exceções são a cantora baiana
Margareth Menezes e o cantor
carioca Seu Jorge, que na época
ainda estava gravando seu primeiro disco.
Assim como não deu bola para o mangue beat pernambucano nem para a axé music baiana, o cineasta também ignorou
a bossa nova. No Rio, preferiu
focalizar o samba tradicional
de Walter Alfaiate ou o samba-funk de Ivo Meirelles.
"Moro no Brasil" não é um
retrato musical completo do
país, mas seu valor está justamente em mostrar fragmentos
preciosos de um Brasil que só
alguns de seus moradores conhecem.
Carlos Calado é jornalista e crítico
musical, autor de "A Divina Comédia
dos Mutantes", entre outros livros.
Moro no Brasil
Sound of Brazil
Direção: Mika Kaurismäki
Produção: Alemanha/Brasil/Finlândia, 2002
Com: Seu Jorge, Caju e Castanha,
Walter Alfaiate e outros
Quando: a partir de hoje nos cines Morumbi e HSBC Belas Artes
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