São Paulo, sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

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MÚSICA/ARTIGO

Quatro décadas e uma tarde com o Rei

NELSON MOTTA
COLUNISTA DA FOLHA

Vi e ouvi Roberto Carlos pela primeira vez no início dos anos 60, magrinho, desconhecido e cantando bossa nova num apartamento em Copacabana, a poucas quadras do Copacabana Palace, onde o Rei fez anteontem o lançamento de seu novo disco com uma audição e uma entrevista coletiva.
Quatro décadas separam o garoto de voz doce e olhar tristonho do homem maduro, carismático e com o poder de seduzir qualquer platéia em qualquer lugar, que vejo entrar sorridente para responder às perguntas dos jornalistas.
Mas a doçura da voz e o olhar comovente continuam os mesmos daquela noite distante em que ele iniciava sua carreira de cantor e eu era um fã de João Gilberto. Nas décadas seguintes, a história dos sentimentos dos brasileiros pode ser contada por suas músicas. No Brasil, ninguém, em nenhum tempo, teve mais sucessos e foi mais querido do que ele.
A boa notícia é que Roberto está cantando cada vez melhor, como mostra o novo disco. Não que as músicas sejam ruins, são quase todas boas, mas certamente já cantou melhores -e nunca cantou tão bem. Seu legendário perfeccionismo se justifica.
Para entender, basta ouvi-lo cantar de novo "Meu Pequeno Cachoeiro". Tudo é muito melhor do que a sua clássica e já belíssima gravação há mais de 30 anos, o arranjo, as sonoridades, a doçura e fluência da voz, a emoção discreta, tudo ficou mais bonito agora. Como nas recentes regravações de seu mestre João Gilberto de "Chega de Saudade" e "Desafinado", 40 anos depois, muito melhores que as históricas.
A coletiva foi muito divertida, os salgadinhos e docinhos do Copa estavam deliciosos, Roberto dominou geral, respondeu tudo com charme e simpatia, como sempre. A parte que mais gostei foi quando ele falou de João Gilberto, quando o ouviu pela primeira vez, aos 17 anos, como tentava imitá-lo, como aprendeu com ele, que sonha em tê-lo em seu programa e já o convidou duas vezes, uma vez João quase foi, na outra quase-quase, e Roberto continua com fé em Deus que um dia ainda ouviremos este dueto que sintetiza quatro décadas de música brasileira.


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