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Modelo da Bienal de SP vive crise
Críticos e curadores apontam problemas com o padrão de mostra de massas, também adotado em Kassel e em Veneza
Ronaldo Brito, Ferreira Gullar, Tadeu Chiarelli e Paulo Venancio Filho não são otimistas quanto ao perfil de mostra paulistana
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Bienal de São Paulo não
tem mais o mesmo papel definidor e influente nas artes plásticas brasileiras, segue o padrão
de eventos como a Documenta
de Kassel e está refém de um
modelo desgastado. Críticos e
curadores ouvidos pela Folha
fizeram esse diagnóstico sobre
o modelo de grande mostra da
Bienal, que termina amanhã.
"As bienais hoje são fenômenos de massa. Deixaram de ser
um laboratório e um acontecimento onde havia espaço para
o experimental. Não é um fenômeno isolado, Kassel e Veneza
passam pelo mesmo problema", afirma o crítico e professor da PUC-Rio Ronaldo Brito.
O crítico e professor da Escola de Belas Artes da UFRJ Paulo Venancio Filho observa um
"populismo" nas mais recentes
edições da Bienal paulistana.
"Há duas edições, a Bienal de
São Paulo tem procurado, mediocremente, imitar e se integrar ao modelo das exposições
do populismo global ditado pelas últimas Documentas e que
se espalhou por todos os continentes."
"As bienais se transformaram em certames-espetáculo
ou locais oficiais de rebeldia. O
que dá importância a uma exposição é a arte que ela exibe.
Se, como disse Duchamp, "é arte tudo o que eu disser que é arte", que sentido têm as bienais?", pergunta o poeta, crítico e colunista da Folha Ferreira Gullar.
Gullar vê problemas no predomínio da arte conceitual nas
exposições. "É curioso que a arte conceitual tenha nascido como uma denúncia da oficialização e da mercantilização da arte. Hoje, as bienais se convertem em supermercados da arte, ou melhor, da antiarte, financiadas por grandes empresas e instituições."
Crise institucional
O crítico e curador Tadeu
Chiarelli observa uma crise no
modelo institucional da Bienal
de São Paulo. "Creio que até os
anos 80, a Bienal de São Paulo
cumpriu um papel fundamental na cena cultural e artística
do país. Hoje ela se encontra
mergulhada em plena crise de
sentido", avalia ele.
"A instituição Bienal não
possui um projeto para si mesma. Ela não se pensa, pura e
simplesmente. Seria importante um debate que levasse em
consideração o que significa
desenvolver uma mostra internacional de arte, a cada dois
anos, seguindo um modelo do
século 19, num país em que ela
é das instituições mais antigas
na área."
Relação com o mercado
Além das evidentes semelhanças entre os tradicionais
eventos de artes plásticas em
âmbito mundial, as "megamostras" têm uma relação problemática com o mercado.
"Acho que as bienais, de uma
maneira geral, estão perdendo
terreno sério para as feiras de
arte [a suíça Basel, a espanhola
Arco, entre outras], que não demonstram nenhuma vergonha
em trabalhar com o mercado,
pelo contrário", diz Chiarelli.
"Por outro lado, Kassel e Veneza tendem a apontar tendências "desestabilizadoras" que, na
seqüência, estarão nas feiras.
Penso que, com raras exceções,
as últimas edições da Bienal de
São Paulo vêm atuando mais
como caixas de ressonância de
Kassel e Veneza do que como
propositoras de tendências."
História
Os críticos ouvidos, no entanto, lembram que a Bienal de
São Paulo foi um evento decisivo nas artes visuais do país.
"Reputo à Bienal, ao Masp e ao
MAM carioca os mais importantes adventos nas artes plásticas brasileiras. No caso da
Bienal, ela deixou para trás todo o populismo que Di Cavalcanti e Portinari exerciam no
cenário nacional. A emergência
de Iberê [Camargo], Mira
Schendel, Sergio Camargo, Hélio Oiticica, Lygia Clark, entre
muitos outros, tem relação direta com a Bienal", avalia Brito.
Venancio Filho vê na explosão de paralelas um sintoma da
crise enfrentada pelo modelo
da Bienal de São Paulo.
"A Bienal de 1953 foi, talvez, a
maior exposição de arte moderna já realizada em todos os
tempos. Essa experiência histórica não está reincidindo sobre uma redefinição do papel
da Bienal, especialmente agora
quando a arte brasileira está
em alta. Daí a esquizofrênica
realização de paralelas e paralelas de paralelas."
A atual curadoria da 27ª Bienal, comandada por Lisette
Lagnado, que fez um programa
de artistas-residentes, aboliu as
representações nacionais e realizou vários debates sobre o tema do evento, "Como Viver
Junto", recebeu alguns elogios.
"São tentativas muito oportunas de buscar retirar da Bienal o caráter "espetaculoso" que
ela assumiu nas suas últimas
edições, seu caráter de evento",
afirma Chiarelli.
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